23/05/2013
Laurence Bittencourt (*)
Em 1936 no XVI Congresso Internacional de Psicanálise realizado em Marienbad, o então jovem médico psiquiatra Jacques Lacan dava inicio ao seu percurso genial como teórico e clinico, grande teórico e grande clinico que foi da mente humana, do ser humano. Nesse Congresso, pela primeira vez ele falava da sua primeira grande inovação ao expor um dos momentos iniciais de toda criança que ele intitulou como “Estágio do espelho”.
O mais incrível e lamentável, é que durante a sua apresentação oral, ele foi cortado da fala, por Ernest Jones (o futuro biógrafo de Freud). Dante do inesperado, Lacan sequer entregou os originais, como é comum, para serem transcritos nos anais daquele Congresso.
Essa cópia incrivelmente foi perdida por Lacan, provavelmente devido à raiva. Ele só voltou a escrever sobre o “Estágio do espelho” em 1949 que terminou fazendo parte do livro “Escritos” e que ganhou o titulo final de “O estádio do espelho como formador da função do eu tal qual nos é revelado pela psicanálise”.
Hoje o texto lacaniano se tornou um clássico sendo lido e estudado “ad infinitum”. A ideia central do texto é esclarecer a gênese do eu, algo que teve inicio com o trabalho de Freud através do conceito de narcisismo, mas que de fato ficara inacabado e mal explicado.
Ao voltar do Congresso em 1936, Lacan escreveu outro grande texto chamado “Os complexos familiares na formação do individuo” que teve como norma continuar suas pesquisas sobre a origem e formação do eu, tanto que ele assim escreveu:
“A identificação afetiva é uma função psíquica cuja originalidade a psicanálise estabeleceu, especialmente no Complexo de Édipo…mas o emprego desse termo, na etapa em que estamos estudando, é mal definido na doutrina: foi isso que tentamos suprir com uma teoria da identificação cujo momento genético designamos pela denominação de estádio do espelho”.
O chamado “Estádio do Espelho” ficou conhecido na teoria lacaniana como o momento inaugural em que o ser humano (todo ser humano) é tocado, capturado, absorvido, pelo eixo Imaginário. Para Lacan, fase do espelho é a fase da constituição do ser humano que se situa entre os seis e os dezoito meses, em que a criança, ainda num estado de impotência e de incoordenação motora, antecipa imaginariamente uma unidade corporal. Será também esse eixo imaginário o pivô explicativo, por exemplo, da psicose paranoica, com o seu discurso de certeza absoluta e crenças delirantes.
Lacan, tomando algumas das ideias de Hegel, irá definir esse momento inicial, dialeticamente, o do nascimento do eu, como sendo o do conflito entre duas consciências que se opõem numa luta de morte, algo que Hegel em outro plano, designou como sendo a luta entre o mestre e o escravo, ou como alguns traduzem como o senhor e o escravo, cuja aposta é de se fazer reconhecer pelo outro, ou dito de outra maneira, o que se trava é uma luta por prestigio. Algo que Jacques Lacan intitulou corretamente como sendo a “paixão da alma” por excelência.
O “estádio do espelho” ficou marcado na teoria lacaniana como sendo o primeiro momento de sua teoria a privilegiar o que ele intitulou de momento do Imaginário, fazendo relação com os outros dois eixos tão importantes em sua teoria que são o Simbólico e o Real. O momento inicial é especular, mas que deixará suas marcas na história do homem.
(*) Jornalistalaurenceleite@bol.com.br
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