quinta-feira, 23 de maio de 2013

Cartas de Paris: A maneira francesa de viajar, por Ana Carolina Peliz



Eu tenho o péssimo hábito de ficar escutando as conversas de outras pessoas nos transportes públicos. Hoje, por exemplo, tinha um rapaz ao meu lado que contava por telefone que passaria suas férias de verão no Sri Lanka. Ele explicava que o país, conhecido pelas praias paradisíacas, também tinha atrativos culturais. A conversa me fez pensar na maneira especial que têm os franceses de viajar.
Pouco importa para onde viajem, pode ser para o interior da França ou para lugares distantes e exóticos, o programa quase sempre inclui visitas culturais. Quando viajo, mesmo em lugares perdidos, sempre encontro franceses nos museus. Eles são capazes de encontrar alternativas culturais nos lugares mais inusitados.
O primeiro passo para organizar a viagem sempre é comprar um guia e fazer um estudo geral do que pode ser visto no país. Algumas vezes este estudo inclui até mesmo aprender uma nova língua, principalmente para os turistas mais jovens.
Os franceses também gostam de sair fora dos caminhos já trilhados, como eles mesmo dizem. Por isso raramente viajam em excursões. Sempre buscam lugares originais, querem o mais autêntico, tentam se misturar com a massa. Eles acham que se misturam.
Normalmente são viajantes intrépidos, capazes de se aventurar com quatro filhos no Vietnã, e gostam principalmente de locais com algum tipo de artesanato ou uma igreja de mais de um século. Mas também se interessam pelo contemporâneo. Para eles, pouco importa a idade do lugar, contanto que seja carregado de história.


Uma vez uma parisiense que visitou o Brasil me disse que achava Brasília única, uma cidade cheia de simbologia. Quando ela começou a interpretar as linhas da capital federal, eu me emocionei.
Poucas vezes ouvi alguém definir com tanta sensibilidade esta cidade que representa tão bem nosso ímpeto de modernidade, misturado com a força da natureza e com as questões sociais que assombram.
Os franceses raramente viajam para fazer compras. Eles simplesmente não acreditam quando conto que alguns brasileiros vão a Miami apenas com este objetivo. Eles também nunca pedem para os amigos trazerem uma encomenda, às vezes dizem “traga um pouco de sol”, mas eles sempre enviam cartões-postais para os que ficam. Eu gosto muito deste hábito, que rapidamente adotei. Receber um cartão-postal ajuda a aquecer o coração no chuvoso verão parisiense.

Ana Carolina Peliz é jornalista, mora em Paris há cinco anos onde faz um doutorado em Ciências da Informação e da Comunicação na Universidade Sorbonne Paris IV. Ela escreve aqui todas as quintas-feiras.

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