quinta-feira, 28 de março de 2013

Cartas de Berlim: Cancelaram a primavera na Alemanha



Tamine Maklouf
Há várias semanas que nós, cidadãos provenientes das terras quentes, esperamos ansiosamente a chegada da primavera aqui na Alemanha, mas me parece que ela foi cancelada na maior cara de pau.
Sim, can-ce-la-da. Já estamos no fim de março e ainda neva, faz grau negativo, as pessoas precisam usar luvas e as crianças ainda andam como astronautazinhos pelas redondezas, sem assimilar muito a bipolaridade do São Pedro teutônico. No fim de semana foi registrada a temperatura mais baixa de todos tempos em Berlim para um mês de março.
Como faz? Todo dia quando acordo, se isso fosse uma novela do Manoel Carlos, sairia uma lágrima dos meus olhos enquanto tomo meu chá preto olhando pela janela me encostando o máximo possível na calefação na tentativa de esquentar o corpo friorento.
Como viver no inverno quase 6 meses? Como, me digam? Me responda aí, Veronica Heringer!
Este é um apelo de uma pobre moça que não tem memórias afetivas com relação a temperaturas frias, pois nasceu, cresceu e se entendeu em Belém do Pará, essa cidade que não tem inverno, mas que é o próprio inferno.


E que falta fazem essas memórias! São elas as responsáveis por lembranças carinhosas dos tempos frios, das brincadeiras, sem os ressentimentos e perrengues. Eu não sinto que pertenço ao frio, e aí está o primeiro problema: o lamento.
Enquanto os alemães reclamam, eu lamento. A tênue linha que divide essas duas manifestações da insatisfação se chama memória afetiva, aquela que eu não tenho. Tudo bem que alemães reclamam mais que respiram, mas no lamento mora aquilo inevitável: a saudade de casa. É quase um blues.
Em janeiro, durante minha estadia no Brasil, estava em Pirenópolis e conheci uma jovem parisiense que “não volta para esse frio mas nem!” E olha que Paris é a Arábia Saudita perto de Dresden atualmente.
Você, querido leitor, que deve estar pensando “mas com tanto problema no mundo!” desculpe-me por este desabafo demasiado pessoal e egoísta. Mas vocês ficam reclamando de barriga cheia. Pronto, falei.

Tamine Maklouf é jornalista e ilustradora nas horas vagas. Mora na Alemanha desde agosto de 2009, onde se encontra na “ponte terrestre” Dresden-Berlim. De lá, mantém o blog Die Karambolage

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