quinta-feira, 28 de março de 2013

Os tres burricos - João Guimarães Rosa


 Pedro Lago - 
27.3.2013
 | 23h30m
POEMA DA NOITE


Por estradas de montanha
vou: os três burricos que sou.
Será que alguém me acompanha?
Também não sei se é uma ida
ao inverso: se regresso.
Muito é o nada nesta vida.
E, dos três, que eram eu mesmo
ora pois, morreram dois;
fiquei só, andando a esmo.
Mortos, mas, vindo comigo
a pesar. E carregar
a ambos é o meu castigo?
Pois a estrada por onde eu ia
findou. Agora, onde estou?
Já cheguei, e não sabia?
Três vezes terei chegado
eu – o só, que não morreu
e um morto eu de cada lado.
Sendo bem isso, ou então
será: morto o que vivo está.
E os vivos, que longe vão?

João Guimarães Rosa (Cordisburgo, Minas Gerais, 27 de junho de 1908 - Rio de Janeiro, 19 de novembro de 1967) - Além de escritor, também foi médico e diplomata. Mundialmente conhecido pelo seu Grande Sertão: Veredas, foi traduzido para diversos idiomas. Membro da Academia Brasileira de Letras, chegou a ser cogitado para o Prêmio Nobel de Literatura. Publicou um livro de poemas 'Magma' no início da carreira. 'Ave, Palavra', foi publicado depois de sua morte.

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