terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Mercado de dinheiro



 O ambiente econômico está mudando. A inadimplência está alta, a inflação subiu, e o PIB está andando de lado há dois anos. O que tem mantido o mercado de crédito é o bom momento do mercado de trabalho. Os bancos estão mais cautelosos na hora de emprestar. E os aplicadores devem buscar mais informação antes de entregar seu dinheiro aos bancos e investir.
No mundo do dinheiro, tudo está em transformação. Quem quiser ganhar da inflação terá que se esforçar muito. A poupança perde por pagar 70% da Selic. Em janeiro, a inflação foi de 0,86%. Há um total de R$ 2,2 trilhões aplicados em 12.720 fundos de investimentos, 41% só em título público. Esse volume de dinheiro é mais de quatro vezes maior do que há na caderneta, mas 11 milhões de depositantes aplicam em fundos e são 102 milhões as cadernetas de poupança. Especialistas acham que é inevitável uma aceitação maior de risco. O problema é a falta de trans parência dos gestores, as altas taxas de administração. 
Álvaro Bandeira, da Órama, calcula que, se são fundos de renda fixa, não faz sentido mais de 0,3% a 0,4% de taxa ao ano. Outros fundos com remunerações maiores cobram bem mais. Carlos Antônio Magalhães, da Apimec, lembra que o Ibovespa tem 45 anos e nesse período teve alta em 28 anos. Caiu o número de analistas, de 3.000 para 700 credenciados. Há menos gente para explicar, justo quando ficou mais complicado entender o mercado. Dos 10 maiores papéis no ano passado, oito tiveram prejuízo. Na tomada de empréstimos, também todo o cuidado é pouco. O economista-chefe da Acrefi (Associação das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento), Nicolas Tingas, em longa conversa com Alvaro Gribel, da coluna, disse que as instituições financeiras concederam muitos empréstimos até 2010, e a inadim- plência subiu, apesar da queda do desemprego. Se o mercado de trabalho virar, o que está ruim ficará pior:
— O mercado de trabalho é que está conten- do uma alta maior da inadimplência. Mas estamos chegando ao limite desse cenário, depois de dois anos de PIB fraco. Se a economia não voltar a crescer forte, os empresários podem começar a demitir para reduzir custos.
Tentar empurrar os bancos para conceder mais crédito não vai funcionar. Por dois motivos: o crédito cresceu muito, e o calote, também. A proporção do crédito em relação ao PIB dobrou em menos de 10 anos, de 23% para 53%. No crédito para pessoas físicas, descontando empréstimos imobiliários, subsidiados, a taxa de crescimento em 12 meses caiu de 19% em janeiro de 2011 para 11% em dezembro de 2012. No crédito livre, está desacelerando a oferta, e o motivo é a alta da inadimplência, de 5,7% para 7,9%.
Houve aumento também nos últimos três anos na inadimplência em automóveis. O mercado financeiro mudou. Passou a exigir entrada de 20% a 30%, e o prazo caiu de 60 para 48 meses.
No mercado de dinheiro, todo mundo mudando. O investidor tem que entender, por exemplo, lembra Álvaro Bandeira, se o fundo no qual aplica trabalha muito alavancado e qual a composição das carteiras. Já as instituições financeiras estão exigindo mais garantia, pelo excesso de calotes que tiveram. Elas estão remuneran- do o capital abaixo da inflação em muitos fundos, prejudicando investidores muito passivos e exigindo juros altos demais de quem não tem outra saída a não ser se endividar. Uma coisa é certa, os bancos não terão a mesma atitude de oferta de anos atrás, segundo Tingas.
— Até por questão de governança, os executivos dos bancos não podem voltar ao ritmo de empréstimos anterior. Como eles vão explicar isso para seus acionistas? Uma financeira pequena pode até tomar risco por conta própria, mas um grande banco não vai agir assim. Primeiro, é preciso limpar os balanços — disse.
Nesse quadro, o Brasil tenta sair do PIB muito baixo e da inflação alta.

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