DARLY, RAIMARI E EU, POR ALTINO MACHADO
"Cumpliciando"
Pensei que levaria um tiro e morreria. Era dezembro de 2008, 20 anos após o assassinato do líder sindical e ecologista Chico Mendes.
Havia inventado naquele mês de entrevistar o fazendeiro Darly Alves da Silva, que fora condenado como mandante do crime.
Pensei bastante sobre quem poderia mediar meu encontro com o fazendeiro. Lembrei do repórter Raimari Cardoso, da Rádio Educadora de Xapuri. Deu certo e o fazendeiro aceitou nos receber.
Chovia muito quando chegamos à sede da fazenda Paraná, na BR-317. Autorizaram a nossa entrada. Ficamos esperando até que apareceu distante, no pasto, Darly Alves da Silva debaixo de um guarda-chuva preto, de boné e camisa azul.
Eu estava com uma jaqueta e dentro do bolso esquerdo carregava um gravador. Logo que a conversa começou enfiei sorrateiramente a mão no bolso para acionar o gravador. Em vez de apertar a tecla "rec", apertei na tecla "play".
O gravador começou a reproduzir outra entrevista, o fazendeiro olhou irado, levantou-se e falou para o Raimari Cardoso:
- Eu venho aqui lhe atender e você traz um comparsa. Você tá "cumpliciando?"
O tempo ficou ainda mais nublado. Inventei uma desculpa qualquer para minha falha. Argumentei que era melhor que aceitasse que a entrevista fosse gravada para evitar interpretação incorreta do que tinha a dizer sobre o crime.
Falei que deixaria com Raimari Cardoso uma cópia do áudio da entrevista, para que pudesse conferir se havia sido ou não reproduzida com fidelidade.
O fazendeiro aceitou e eu me senti aliviado. "Chico Mendes foi um mártir e eu também", disse Darly. Para quem não leu, vale a pena conferir a entrevista. Clique aqui.
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