Na firma tem crachá, ponto, refeitório e as mesmas pessoas todos os dias. Não achei tão estranho o crachá, mas as mesmas pessoas todos os dias é novidade para mim.
Sou freelancer e estou acostumada a ver sempre gente diferente por onde passo. Para minha surpresa, tenho achado acolhedor saber exatamente quem eu vou encontrar, quem vai dar bom dia, quem vai passar e fingir que não me viu e quem ainda não sabe que eu existo (porque a firma é grande. Muito grande).
Fui temporariamente contratada para coordenar a transmissão do carnaval de uma TV local, onde ficarei por três meses passando o crachá, almoçando no refeitório e dando bom dia.
Na primeira semana achei que teria um AVC fatal se atravessasse mais uma vez aquela catraca, mas o tempo é sábio e percebi que o mundo seria melhor se houvessem mais catracas.
Já pensou uma catraca onde você passa o crachá e o guarda te dá bom dia no trânsito? E uma dessas no dentista? E no supermercado?
Sem dúvida foi o bom dia que me conquistou!
Já o refeitório é praticamente uma filosofia de vida! Nada, nada, nada neste mundo pode ser tão democrático quanto o refeitório da firma. A comida é a mesma para os rapazes de farda azul, os jornalistas, os estagiários, os homens de gravata (que só posso imaginar que são do departamento financeiro ou administrativo), artistas, apresentadores, serviço geral, secretárias, diretores e prestadores de serviço (como eu, que nem têm direito a foto no crachá, mas têm passe livre no refeitório).
Com mesas longas e comunitárias, já almocei ao lado da moça do marketing, do Chef que apresenta o programa de culinária, das meninas da produção, da tatuada da edição, do moço do CallCenter, dos meninos da engenharia, do fotógrafo do jornal, e dividimos, além da batata frita, conversas animadas como se nos conhecêssemos há anos.
Enquanto isso, no prédio onde eu moro, nem sei o nome da vizinha de porta. O que me faz pensar, seriamente, em sugerir a implementação do crachá, da catraca e do refeitório na próxima reunião de condomínio.
Deveríamos baixar um decreto oficial e obrigatório para que todos os moradores fossem abrigados a almoçar juntos num lindo e feliz refeitório. Ou todos os vizinhos do bairro. Ou toda a humanidade, junta, dividindo o bandejão da firma, passando o crachá e dando bom dia.
Moral da história: a firma é o mundo perfeito, não fosse o contra-cheque!
Téta Barbosa é jornalista, publicitária, mora no Recife e vive antenada com tudo o que se passa ali e fora dali. Escreve aqui sempre às segundas-feiras sobre modismos, modernidades e curiosidades. Ela também tem um blog - Batida Salve Todos
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