terça-feira, 25 de dezembro de 2012

O MEDO DO DESCONHECIDO



Laurence Bittencourt (1)
Da mesma forma que milhares de pessoas acreditaram que dia 21/12/12 seria o fim do mundo, com base em algumas “profecias”, da mesma forma fica difícil duvidar de que milhares de pessoas acreditam que Lula nada tem a ver com o mensalão. As crenças e valores das pessoas são construídos tendo como substrato medos, desejos e fantasias.
Charge de Paixão, detalhe
Charge de Paixão, detalhe
Óbvio que o medo de fim de mundo não é algo próprio do nosso tempo, o que mostra que o ser humano muda pouco, apesar de todos os avanços da ciência. O medo do desconhecido, do estranho (a palavra estrangeiro, deriva de estranho) já pode ser visto na criança que retorna aos braços maternos quando um “estranho” solicita sua atenção ou quer tomar-lhe pelos braços.
O ser humano tende a querer o familiar, o já conhecido e se afastar do desconhecido. E mais ainda: o humano parece mesmo sempre depender de alguém que apareça como “guia”, seja no plano espiritual ou material (terreno) e que possa transmitir a idéia de conforto e amparo. Isso explica em muito a necessidade de lideres que demonstrem “saber mais”, ser confiável, que demandarão proteção diante do desconhecido.
E pessoas que projetem esse tipo de valores são talhadas para assumirem o papel de lideres. Claro, que a força do marketing, da propaganda ajuda enormemente, e isso (desde Hitler e do nazismo) tem sido uma arma das mais potentes como forma de “impor” crenças e valores.
Marx chamou a esse tipo de atitude de “falsa consciência”, ou seja, a massa acredita mais no outro do que em si mesma. A questão é que nem sempre a “vox Populi” é a “vox dei”. E exemplos temos aos montes na vida humana.
Diante dessas questões e fatos, o de “fim do mundo” e de que Lula nada tem a ver com o mensalão e outras ilicitudes, resta torcemos por aquelas mentes que não sucumbem a propaganda, superstição e dependência. A luta, no entanto, é grande. Como se diz, lutar contra governos (ainda mais em um país sem a mínima tradição nessas lutas) não é fácil. De qualquer forma, os focos de resistência tem se mantido atentos e perseverantes.
Se as evidências de que o mundo (apesar das profecias, qualquer uma delas) não acabou pode ser constatado empiricamente, as evidências no campo politico (ainda mais em um país como o nosso) não se processam da mesma forma. O campo da enganação, da propaganda e do abuso de poder são forças muito mais poderosas.
A diferença entre a natureza e a cultura pode ser vista a olho nu, ainda que não para todos. Ou seja, enquanto que numa, a primeira, obedece a forças incorruptíveis, a segunda nem sempre.  O medo, a dependência e desejos muitas vezes inconfessáveis, passam a regular os valores e crenças. Mas como diz o ditado, “se pode enganar muitos por muito tempo, mas não se pode enganar todos o tempo todo”. Mesmo numa ditadura.
(1) Jornalista. laurenceleite@bol.com.br

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