terça-feira, 25 de dezembro de 2012

O atraso do trenó, por Miriam Leitão



Já é o dia 25, mas quem sabe o trenó se atrasou. Com a dificuldade de mobilidade urbana — e até aérea — que anda por aí, pode ser que Papai Noel ainda tenha tempo de receber uma cartinha da coluna. Pedidos mil. Lucidez para os políticos em momentos importantes da transição institucional do país encabeça a lista. O combate à corrupção precisa ter novos avanços.
O pedido acima é o chamado dois em um: mais lucidez para políticos pode levar à menos corrupção. Se forem lúcidos, descobrirão que o nível a que o problema chegou no país ameaça as instituições. A corrupção teve um duro golpe em 2012, que novos desabem sobre a cabeça desse mal no ano que vem, e no outro, e no outro. Assim, quem sabe um dia... não custa sonhar.
Que as boas intenções do governo deem certo e o índice de erros caia. Um desses objetivos louváveis é a eliminação da extrema pobreza brasileira. Tomara que o país se apresse na busca desse objetivo porque já estamos chegando ao meio da segunda década do milênio.
A educação de qualidade é um presentão, desses que se desdobram em vários outros presentes como se fosse uma matrioska russa. Torna mais garantido o pedido anterior, de redução da miséria, aumenta a força da economia, porque estamos em plena era do conhecimento, fortalece a democracia.
Se o velhinho de vermelho garantisse que daria esse regalo ao país, a gente poderia esquecer o resto da lista porque muitos dos pedidos seriam automaticamente atendidos.
Como não há, nem de longe, essa certeza, continuemos aqui sonhando, porque se não for hoje, dia de Natal, quando será o tempo do devaneio?
O pedido inclui também eficientes administradores públicos, principalmente das cidades. Quem vem de trenó tem visão panorâmica e sabe, portanto, que aqui embaixo está uma bagunça horrorosa. O trânsito deu um nó cego no país. Não se vai para a frente nem para trás.
Chega-se ao trabalho exausto e com baixa produtividade; chega-se em casa incapaz de aproveitar os momentos em família. Melhor mobilidade urbana elevaria a eficiência profissional, a qualidade de vida, o humor, o amor.
Se fizessem só isso, os administradores públicos já poderiam ser aplaudidos. Ficaria faltando apenas que eles vissem tudo o mais, como a falta de área verde, de planejamento urbano, segurança, tratamento do lixo, saneamento... enfim, essa lista acaba de entrar num atalho ou criar uma sublista que pode ficar interminável. Voltemos para o eixo central da missiva.
Caro Papai Noel, que esta e todas as cartas sejam escritas em papel reciclável ou de florestas plantadas. E que o país tenho o juízo de reduzir o número de árvores abatidas em 2013. Este ano foram 232,8 milhões, segundo o cálculo do especialista Paulo Barreto, do Imazon. E isso foi no ano de menor taxa de desmatamento. É bom lembrar que esse número de arboricídio é apenas o da nossa maior floresta, mas elas tombam em todos os biomas brasileiros pelos mais desatinados motivos.
Na economia, uma bondade pode levar a outras. Menos impostos e menos gastos públicos podem levar a mais poupança, que permitirá mais investimentos, que, se forem bem feitos, podem aumentar a eficiência, e tudo com mais emprego e renda. E, claro, mais crescimento do PIB.
Nem todo gasto público pode ser cortado, por isso, que a tesoura fique nos desperdícios. Já terá muito trabalho. Que as agências agenciem menos os interesses particulares e regulem melhor os serviços públicos, para que as concessionárias nos irritem menos em 2013.
Um pedido em causa própria, se me derem licença: que os leitores leiam mais jornais em qualquer formato. E livros. O Brasil lê pouco, mas isso tem mudado. Quem sabe a gente vira essa página?

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