No dia 22 de dezembro o ex-ministro José Dirceu de Oliveira Silva recebeu uma colunista da Folha de São Paulo cedo em seu apartamento. Dentre os trechos de conversa reproduzidos pelo jornal dos Frias, me chama a atenção justo o que já fora destacado como editorial da Carta Maior, portal este de apoio crítico ao governo.
O ex-guerrilheiro ressalta a falha de seu partido ao não criar “uma comunicação e uma cultura de esquerda no país. Até nos Estados Unidos tem isso, jornais de esquerda, teatro de esquerda, cinema de esquerda. É uma esquerda diferente, deles, mas que é totalmente contra a direita. Aqui no Brasil não temos nada disso.”
Embora esta reflexão seja válida, e justificada, parece outra saída tática. Parodiando nosso poeta maior, vale perguntar: “Só agora José?!” Sim, porque dez anos após a ascensão da maior liderança popular da história do Brasil, chegando ao Planalto através de um pacto de classe assinado na Carta ao Povo Brasileiro, fica difícil crer nisso.
Ou a compreensão de cultura do “capa preta maior” não passa de um verniz estético; ou então a geração de dirigentes petistas não entendeu nada do que leu (se leram) do conceito de cultura de classe, operando como norma e código de conduta.
Soa como pastiche imaginar uma produção cultural contestadora em um país onde a melhoria das condições de vida não passou nem perto do aumento da mobilização social.
Ao contrário dos demais governos de centro-esquerda da América Latina, aqui a disputa se reduziu à arena política, isolando a luta econômica ao emprego direto e a criação de kits de felicidades para o empresariado nacional.
Já na frente ideológica, ocorreu a inversão de papéis. Tal como na obra de George Orwell, a nova elite dirigente da granja se identifica com os antigos inimigos.
Por fim, a contradição é tamanha, que nem as boas políticas do Ministério da Cultura, quando dirigido por Gilberto Gil ou Juca Ferreira, jamais receberam orçamento e apoios necessários para seu bom desenvolvimento. Qualquer um que conheça minimamente a escassez de recursos da Teia ou dos Pontos de Cultura concordará com a crítica.
É duro admitir, mas a “cultura” promovida nos últimos dez anos, embora não fosse elitizada, promoveu o “bastantão”. Consumo suntuoso, lixo cultural em larga escala, emprego direto e desmobilização social.
Os valores circulando são conservadores, a adesão ao sistema é integral e os setores dominantes nada têm com que se preocupar com Lula, e agora Dilma, à frente do Poder Executivo.
Bruno Lima Rocha é cientista político
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