sábado, 22 de dezembro de 2012

Cercado, Lula ataca, por Vitor Hugo Soares



“Ataquei Paraíba e Pernambuco /Alagoas, Sergipe e Bahia/Dominei e fiz tudo o que queria /Dei trabalho aos soldados de Nabuco./O governo de lá perdeu o suco/ Procurei um lugar de mais reforço/Para atacar Mossoró eu fiz esforço/A viagem foi errada e foi perdida/ Fui feliz escapar com minha vida/ Que o chumbo de lá é muito grosso”.
(De José Saldanha de Menezes Sobrinho, o Zé Saldanha, inspirado e saudoso poeta popular do Nordeste, em cordel sobre o cerco a Virgulino Ferreira, o Lampião, em Mossoró, no tempo do cangaço no sertão).
De volta a São Paulo e ao País, depois de périplo pela Europa (onde fez palestras ao lado de figuras de proa da política e dos governos, recebeu títulos e honrarias de instituições acatadas por lá e cá, além de conversar bastante para combinar discursos e acertar ponteiros com a presidente Dilma Rousseff), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva emite, para aliados e adversários, sinais claros de mudança de rumo e de ações.
Pelo que informou, disse e fez esta semana do começo da temporada de Verão, o ex-presidente quer começar 2013 de um jeito que surpreenda aos dois lados do cabo-de-guerra, se algo ainda pode causar surpresa por aqui, além do fim do mundo.
Esta semana, para ser exato, em seu território preferencial, a região do ABC paulista, Lula fez os primeiros testes de sua nova conduta.
Na verdade, uma antiga tática de guerrilha que deu fama e sobrevida a Lampião no tempo do cangaço no Nordeste: “Se estou cercado e acuado, vou para cima, e ataco”.
No plano jornalístico, factual, isso ficou evidente principalmente no anúncio feito pelo palanqueiro ex-presidente de que vai “voltar a andar por este País em 2013”.
Ou seja, para contextualizar melhor e tentar dar maior objetividade à parte meio submersa nesta história: estaria a ponto de ser ressuscitada, quase dois anos antes das eleições presidenciais, em 2014, as chamadas Caravanas da Cidadania. “O contato para conversa cara a cara com o povo”, como tem proclamado tantas vezes o ex-presidente.
Lula sempre considerou esses longos (e custosos física e financeiramente) percursos pelas entranhas do país, cruciais e decisivos para suas “viradas” pessoais e políticas, depois de seguidas derrotas eleitorais ou de inferno astral inclemente e demorado.
A exemplo deste que ele enfrenta atualmente: tudo agravado desde o começo do julgamento dos réus no processo do Mensalão. Muitos deles petistas do primeiro time, parlamentares ou ex-aliados importantes de seu governo, agora já condenados e com futuro incerto.
Entregues ao pulso e à decisão do firme e correto relator do Mensalão, atual presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa. Isso ficou demonstrado mais uma vez, na tarde desta sexta-feira (21), na decisão de recusar o pedido de prisão dos réus condenados no julgamento do processo do Mensalão, antes do feito ter transitado em julgado.
Com sabedoria, desarmou mais uma bomba deixada em seu colo.
Foi em tempos de crise como este (embora com traços essenciais de diferença no espaço e no tempo) , por exemplo, que Lula apelou para a suas caravanas.
Nasceu assim (só para refrescar a memória) a travessia das nascentes, em Minas Gerais, à foz, em Alagoas, do Rio São Francisco.
Da viagem, de barranca em barranca dos dois lados do rio da minha aldeia, nasceram imagens fantásticas utilizadas pelos marqueteiros na campanha eleitoral, além de entrevistas e discursos – muitos discursos -, projetos de governo: uns factíveis, outros mirabolantes e claramente eleitoreiros, a exemplo da Transposição das águas do São Francisco.
Para citar apenas este produto emblemático das caravanas pelo interior do Brasil, cuja reabilitação Lula anunciou esta semana em seus “encontros de solidariedade” com governadores (incluindo o tucano de Alagoas, Teotônio Vilela Filho) e principalmente com os sindicalistas da CUT em festa de posse no ABC, vale lembrar:
A transposição das águas do São Francisco (o rio da minha aldeia baiana, repito) já é o mais caro entre os projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Só no atual governo da presidente Dilma Rousseff, os preços da obra monumental aumentaram 71% e saltaram para R$ 8,2 bilhões.
A obra se transformou em imenso canal escoadouro de recursos públicos. A primeira etapa da transposição, quando anunciada com pompas e circunstâncias, deveria ser inaugurada em 2012.
O ano acaba, com o Nordeste mergulhado em uma das maiores secas de sua longa história de estiagens devastadoras, e tudo que a transposição produz até aqui são escândalos e mais cobiça.
“Amaldiçoado quem tiver pensamentos maus sobre estas coisas”, como dizem os franceses, terra por onde o ex-presidente passou antes de anunciar a sua nova cruzada. Ou tática de guerrilha? Responda quem souber.
Bom Natal Para Todos!!!

Vitor Hugo Soares é jornalista. E-mail: vitor_soares1@terra.com.br

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