terça-feira, 23 de outubro de 2012

Benditas ou malditas as heranças?, por Ateneia Feijó



Petistas fanáticos são mais irritantes para as esquerdas do que para a direita conservadora. Por quê? Porque desqualificam realizações de adversários partidários (e de ex-aliados), mesmo quando se embasam nelas para seus programas de governo.
Por exemplo: o Bolsa Família. Não é preciso ser petista para festejá-lo; tampouco inimigo para fazer alguma crítica. Porém, não é justo e nem honesto não levar em conta os 13 programas anteriores de combate à miséria de FHC, que foram coordenados por sua secretária de Estado de Assistência Social Wanda Engel. Geógrafa e doutora em educação.
Ela colocou o ovo de Colombo na mesa ao apresentar o conceito do “núcleo duro da miséria”. Mostrou que sem quebrá-lo não se mudaria o Brasil, porque esse núcleo seria a matriz da pobreza extrema. E da perpetuação das gerações de miseráveis; com seus filhos analfabetos continuando a ter filhos analfabetos. Progressivamente.
Para romper esse círculo perverso havia de se quebrar preconceitos. Como o da entrega do dinheiro público direto na mão da mulher chefe da família miserável. Junto com escola.
Engel foi a primeira a enxergar a erradicação da pobreza como estratégia. Seu trabalho não era filantrópico, ora. Chegou a declarar que não considerava a fome como prioridade porque não faltava alimento no país. Na época, foi um prato cheio para os petistas.
A ministra de Desenvolvimento Social, Tereza Campello, reconhece Wanda Engel como uma das pioneiras na política de transferência de renda. Mencionou-a ao discursar na cerimônia em que a presidente Dilma instituiu o Sistema Único de Assistência Social.
Em entrevista a Sergio Lirio, na revista Carta Capital, a ministra credita o sucesso do Bolsa Família ao cadastro único de beneficiados: “é a nossa grande tecnologia”. Ou seja, é uma “tecnologia” que permite mapear a pobreza e reorganizar a oferta de serviços públicos.
Entusiasmada, Campello propõe que se faça uma “verdadeira reforma do Estado brasileiro”. Entretanto, sua proposta tem sido rejeitada.


“Parte da esquerda rejeita qualquer discussão sobre a reforma do Estado por associá-la a uma bandeira do neoliberalismo”, queixa-se. E explica que defende um Estado mais efetivo; nada de Estado mínimo...
O fato é que a partir de tecnologias conquistadas no passado está sendo possível aprimorar sistemas informatizados que permitem maiores avanços sociais. Hoje o poder público acessa e cruza informações inimagináveis. Qual será o próximo mapa? (Ou herança?)

Ateneia Feijó é jornalista

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