POLÍTICA
O caso denunciado em 2 de agosto pelo jornal O Estado de São Paulo é emblemático de como as empresas brasileiras vão se expandindo mundo afora, repetindo lá os mesmos padrões de desrespeito e até de violações de direitos humanos que muitas multinacionais dos EUA e da Europa já praticaram aqui mesmo no Brasil.
Segundo o Estadão, “disputas trabalhistas e políticas envolvem Vale em massacre na África”, provocaram a morte de seis manifestantes em protestos contra a política de contratações da mineradora brasileira na Guiné. O massacre de seis civis em 4 de agosto teria a ver com disputas em torno de uma jazida de minério naquele país da costa oeste da África.
O crime aconteceu em 4 de agosto, informou o jornal. A ONU vai liberar, em breve, um relatório sobre o assunto.
Essa não é a primeira vez que a gigante da mineração se envolveria em casos de desrespeito a direitos trabalhistas. Em 2009, já enfrentou a greve de meses feita por mineradores da canadenses Inco, que foi incorporada pela Vale.
Em Moçambique, a Vale tem uma relação tão ruim com os habitantes do país que muitos habitantes locais têm hoje uma imagem do Brasil pior do que tinham de Portugal à época da colonização portuguesa.
Esta não é, também, a primeira vez que outras grandes empresas brasileiras de tornam vilãs em outros países. A OAS, por exemplo, recentemente se envolveu com resistências indígenas à construção de uma estrada que, com financiamento do BNDES, cortaria áreas naturais protegidas na Bolívia.
Antes, a Petrobras já tivera péssima relação com os indígenas equatorianos por conta da exploração de petróleo no parque Yasuní.
A onda de expansão de corporações brasileiras a outros países, onde reproduzem práticas das mais condenáveis, é alimentada pela teoria das “campeãs nacionais”, segundo a qual corporações com base no Brasil precisariam receber muito apoio financeiro estatal e expandirem-se.
Os defensores dessa tese, sendo o principal deles o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, reuniram-se inicialmente no Instituto de Economia da Unicamp, na década de 1990, de onde levaram suas ideias para o empresariado nacional e para o Itamaraty.
Lá tiveram, na pessoa do embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, o apoio que a transformou em estratégia oficial das relações exteriores brasileiras.
Agora, o governo brasileiro, que estimula a estratégia de expansão do capitalismo de base nacional, precisa dizer em que medida o Estado brasileiro também exigirá limites internacionais às companhias aqui sediadas.
Ou se faz isso, e imediatamente, ou o Brasil reforçará a tese, relativamente bem espalhada pelos países subdesenvolvidos, de que não passa de mais uma nação imperialista.
Carlos Tautz, jornalista, é coordenador do Instituto Mais Democracia – Transparência e Controle Cidadão de Governos e Empresas.
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