sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Tim Maia, compadre.



by Ricardo Queiroz Pinheiro

Há setenta anos nascia no Rio de Janeiro, Sebastião Rodrigues Mais, Tim, o soulmen com marca Brasil, o cara que cruzou uma densa fronteira do gosto, que é da cepa de poucos, desses poucos que cruzam a fronteira de classes, que habita as casas da  periferia, que rola no baile dos bacanas, Tim Maia.
Falar de Tim Maia é esbarrar nas suas histórias folclóricas, nas suas gags contra o mundo. Tim deveria rir secreto das suas próprias presepadas, mas segundo os próximos relatam queria ser mesmo é querido, e foi, muito. Um dia me disseram (um músico que tocou com ele) que os músicos fugiam de Tim, mas que todos o ouviam com reverência. Tim cantava e isso não era uma metáfora.
Desde menino ouvia Tim Maia, e menino mesmo pude perceber no rosto das pessoas, o brilho, a felicidade, a paixão, quando ouviam as canções do doidão. Aquela figura enorme no Chacrinha, nos vários programas de TV, na rádio, e nos ecos da vida suburbana, foram formando meu juízo de Tim, e ele foi foi me formando, a música, as lembranças, os momentos de firmar, de pensar e de esquecer. A música que nos imprime.
Uma imagem marcante era dormir tarde nas noites de sábado, tinha um clube perto de casa, noite de baile, lá pelas onze e pouco, meia noite, ouvia lá no fim da rua a música alta, black music, soul, Tim Maia, vozeirão, aquilo enchia a noite curta do menino sonhador que tinha que dormir cedo, burlava porque era sábado. Tim Maia trilhava a beleza do meu sábado.
Os hits das rádios, Primavera, Azul da Cor do Amor, Cristina, Você, Réu Confesso, e jukebox Seroma que se formou em quatro décadas. Tim se misturava aos cantores populares das rádios AM, não ficava estranho ali, era daquele lugar, de todo lugar, era um cantor popular, com cancha, com ginga, com músicas em tom menor, balanços, que enchiam os romances de pessoas independente de onde elas saiam onde estavam. Dançavam e viviam seus amores, e isso permaneceu.
Acredito que muitos poderiam escrever a "sua história" de Sebastião Rodrigues Maia, contada com músicas, e com o enredo que as melodias, coincidências e inspirações. A força do compositor/cantor que superou barreiras, drama que ele exacerbava, mas que sabia que foi duro superar. Tim lutou muito contra a maré e criou muita maré contra, brilhante contraditório.
Torcedor do América, gordo, inconsequente, cheio dos rompantes, Tim Mais não distribuia rosas, deixa esta tarefa para suas canções, foi e voltou várias vezes, deu entrevistas polêmicas, outras desastrosas, criou frases antológicas, um rebelde de verdade que não emulava rebeldia. Pagou preço alto.
E foi num domingo, disso lembro bem, eu tava navegando à toa pela web, 15 de março de 1998, pipocava por músicas, notícias, portais, e abrupta manchete estalou na tela: "Morre Sebastião Rodrigues Maia".
Voltou tudo na lembrança, os tais sorrisos e brilhos no rosto das pessoas, o clube do barulho belo que reinava nas minhas noites de sábado, o tempo de ouvir rádio, os programas de tv, ele com suas roupas grandes e brilhantes,  as passagens da minha vida que o Tim habitou, a minha história de Tim Maia. Imagens e sons.
Fica a história que ninguém nos rouba, as músicas que mantém acesas as ligações, e não foram poucas, escolher uma é difícil, mas a camaradagem prevalece, e Tim gostava de incensá-la em suas canções. Escolhi Compadre, porque Tim foi do seu jeito e do meu jeito, um compadre na minha vida.

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