terça-feira, 18 de setembro de 2012

OBRA-PRIMA DO DIA - ARQUITETURA Veneza e 'el parón de casa'



Campanile di San Marco é um dos símbolos de Veneza. Os venezianos o chamam, carinhosamente, de el paròn de casa (o dono da casa, ou senhorio). Com 98,6 m de altura, é um dos mais altos campanários da Itália. Ergue-se soberano, em um ângulo da praça, bem em frente à Basílica.
Simples, em tijolos que se encaixam, é uma torre quadrangular que mede 12 metros de cada lado; a 50 metros do solo ficam os cinco sinos, cercados por belas arcadas. Em cima da câmara dos sinos fica um cubo sobre cujas faces estão representadas, alternadas, as figuras de dois leões andantes e a de Venezia (a Justiça), em forma de mulher. O conjunto é coberto por uma pirâmide em cujo topo está a estátua dourada do arcanjo Gabriel.
A base desse monumento é embelezada pela Loggetta del Sansovino que é uma pequena arcada voltada para a Basílica, formada por três arcos; em quatro nichos entre as colunas que sustentam os arcos vemos, em bronze, as estátuas de Minerva, Mercúrio, Apolo e da Paz. Em 1663, foi erguido, sobre a arcada, um balaustre também em mármore.
A decoração dos frisos que contornam o pequeno edifício fala da ligação da cidade com essas figuras. Construída como arco monumental, a partir de 1569 passou a ser um posto de guarda das Procuradorias. A cancela em bronze que cerca a balaustrada é de 1737.
O campanário foi construído para servir de posto de vigia e farol. Sua construção foi iniciada no século IX, mas ele sofreu muitas modificações, até o século XIV. No grande terremoto de 1511 sua estrutura foi muito danificada; as obras de restauro deram a ele sua fisionomia atual.
Em 1609 Galileo Galilei utilizou o campanário para fazer uma demonstração de seu telescópio.
Sua história não se encerra aí: sofreu muito com raios até que em 1776 recebeu um para-raios. O pior ainda viria a acontecer. Em julho de 1902 foi notada em sua parede norte uma rachadura que nos dias seguintes aumentou de dimensões até que na manhã do dia 14 o campanário desmoronou.
Não houve vítimas, nem danos maiores às construções vizinhas. A Basílica foi poupada pelo chamado Pietro del Bandoou Pedra das Proclamações (foto à esquerda), um grande pedaço de antiga coluna em pórfiro, sobre o qual eram lidos os editais e decepadas as cabeças dos criminosos nos tempos da República e que fica na frente da face sul da Basilica.
Levada para Veneza em 1296, originária de Acre, cidade da Galileia ocidental, uma das mais antigas localidades continuamente habitadas daquela região, foi ela que recebeu o impacto da alvenaria, poupando a monumental basilica.
Dos cinco sinos somente o maior escapou da queda brutal sem danos . Os outros foram refeitos com os pedaços de bronze retirados do entulho que foram derretidos e fundidos novamente para a feitura dos quatro sinos menores. Esse trabalho foi presente do papa Pio X à cidade.
Na mesma tarde em que tombou, o Conselho Maior se reuniu e foi decidido que iriam reerguer o campanário. Talvez para se redimirem de não ter acreditado nos que diziam que algo estranho acontecia com o 'parón'...
Ficou famosa a frase do prefeito de então, repetida inúmeras vezes: será erguido“dov’era e com’era” – onde era e como era. A reconstrução que começou em 25 de abril de 1903 só terminou em 25 de abril de 1912, não por acaso o dia de São Marcos.

 
 A praça vista do alto do Campanile (as mesinhas à direita são do Florian...)

Veneza, Itália

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