sábado, 8 de setembro de 2012

O silêncio dos incompetentes



Sebastião Nery
Paulo Freire, o saudoso pernambucano inventor do método social de alfabetização (usando as palavras de cada região), que ele começou a aplicar com Arraes prefeito e governador, e a ONU levou para o mundo inteiro, estava preso no 14º RI de Socorro, depois do golpe de 1964, um capitão pediu:
- Professor, o senhor podia aplicar seu método de ensino com nossos recrutas? Há muitos analfabetos aqui e era um serviço que o senhor prestava ao País enquanto estivesse preso.
- Tudo bem. Mas é exatamente por causa de meu método que estou aqui.
Alfabetizou, foi solto e seguiu para o exílio na África, onde o encontrei, em 1975, na paupérrima Guiné Bissau, missionário da alfabetização, com suas vastas barbas brancas, como um enviado de Deus adorado pelo povo.
 Freire, o gênio perseguido
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PAULO FREIRE
A primeira grande experiência de Paulo Freire fora de Pernambuco, com seu método tanto mais revolucionário quanto mais simples, foi no Rio Grande do Norte, com Aluísio Alves governador (de 1961 a 1965) e José Calazans secretário da Educação. E a primeira cidade onde ele foi implantado, com todo o sucesso, foi Angicos, terra do governador (Aluísio nasceu lá em 1921).
Em 1963, o presidente Kennedy, dos Estados Unidos, que dava esmolas à America Latina com sua Aliança para o Progresso, marcou uma visita ao Brasil, inclusive a Angicos, para ver a experiência de Paulo Freire lá, que era ajudada pela Aliança para o Progresso. Nas vésperas, foi assassinado.
Veio o golpe de 1964, Paulo Freire preso, Aluísio sob suspeita e cassado em 1969 pelo AI-5, apesar de udenista papo-amarelo. E o programa morreu. Foi assim, pelo País inteiro, a farsa antinacional da “revolução redentora”.
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DULCI E FREI BETTO
Em 2005, quarenta anos depois, Lula foi a Angicos para a entrega do diploma de alfabetização de 3 mil adultos, em boa hora bancada pela Petrobras. Lula repetiu toda uma hora as baboseiras de sempre: reeleição, vão ter que me engolir, ninguém neste País tem mais ética do que eu, minha mãe me botou vergonha na cara, eu não sabia de nada, Dirceu também etc.
E não se lembrou de Paulo Freire, que ali plantou as primeiras sementes dos programas de alfabetização em massa no País. Tudo bem, Lula não lembra quem foi Paulo Freire, não sabe de nada mesmo. Mas o discreto e culto professor Luis Dulci, que escreve para ele, ou o santo e sofrido Frei Betto, que tenta absolver-lhe os pecados, deviam ter lembrado. Uma gafe imperdoável.
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MEDEIROS
Uns nos prenderam, nos bateram, nos cassaram, nos exilaram. Outros torturaram, mataram. Mas eles não roubaram. Em 20 anos de ditadura, com poder absoluto, nenhum general enriqueceu, nenhum ganhou dinheiro sujo.
No Brasil não houve Pinochet, o engalanado e endeusado ladrão chileno.
O Globo certa vez  publicou a foto do general Otávio Medeiros (que morreu em Brasília aos 82 anos) saindo de um modesto restaurante e levando para casa cinco marmitas na mão.
Quase todo dia eu o via assim, no Conjunto Gilberto Salomão, em Brasília, como Carlos Chagas, Rubem Azevedo Lima, também o viam, pois morávamos ali perto.
Aquele homem calado, óculos escuros, calça jeans, chegava com suas marmitas vazias, esperava, pegava as marmitas cheias e ia embora. E tinha sido um dos três homens mais poderosos do País.

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