sábado, 8 de setembro de 2012

Estudos sugerem explicação para base biológica da espiritualidade



Leonardo Boff
Assinalamos anteriormente que o espírito representa a dimensão do profundo humano. Espiritualidade que dele se deriva é um modo de ser, uma atitude fundamental, vivida na existência: na arrumação da casa, no trabalho na fábrica, dirigindo o carro, conversando com amigos. De repente, irrompe como que um lampejo de algo mais profundo e inexplicável. É o espírito que se anuncia.
As pessoas podem se fazer abertas para o profundo e para o espiritual. Então, se tornam mais centradas, serenas e irradiadoras de paz. Propagam estranhas vitalidade e entusiasmo porque têm Deus dentro de si. Esse Deus interior é amor, o qual, nas palavras de Dante, no fim de cada livro da “Divina Comédia”, “move os céus e as estrelas”, – e nós acrescentamos: e nossos próprios corações.
Essa profundidade espiritual, dizem pesquisas científicas, tem uma base biológica. Imagens cerebrais teriam detectado o “ponto de Deus”. Realizadas do fim do século XX e conduzidas pelos neuropsicólogos Michael Persinger e Ramachandran, pelo neurologista Wolf Singer e pelo neurolinguista Terrence Deacon, outrossim por técnicos usando scanners modernos para fazer imagens cerebrais, detectaram o que eles chamaram de “o ponto de Deus no cérebro” (“God spot” ou “God module”).
Pessoas que, em suas vidas, deram espaço significativo ao espiritual revelam nos lóbulos frontais do cérebro uma excitação detectável acima do normal. Esses lóbulos são ligados ao sistema límbico, o centro das emoções e dos valores. Aí se dá uma concentração naquilo que tais cientistas chamaram de “mente mística” (“mystical mind”).
Tal estimulação do “ponto de Deus” não está ligada a uma ideia ou a algum pensamento objetivo. Ele é ativado sempre e quando a pessoa se sente emotivamente envolvida com os contextos globais que conferem sentido à vida ou quando, de forma autoimplicada, se referem ao Sagrado, a temas religiosos ou diretamente a Deus.
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REDE DE DEUS
Estudos recentes apontam que pode haver não apenas uma, mas múltiplas regiões do cérebro estimuladas pela experiência de totalidade e de sacralidade. Isso indica que o “ponto de Deus” pode ser, na verdade, uma “rede de Deus” compreendendo regiões normalmente associadas a emoções profundas e carregadas de significação. Outros pesquisadores, como Eugene D’’Aquili e Andrew Newberg, chamaram essa realidade, como temos referido acima, de “mente mística”.
Essa mente mística pertence ao processo mais geral, antropogênico-cosmogênico. Ela representa uma vantagem evolutiva do gênero homo. Como externamente somos dotados de sentidos pelos quais apreendemos a realidade através do ouvido, do olho, do tato e do olfato, assim seríamos internamente enriquecidos com um órgão pelo qual captamos o Mistério do Mundo, o que nos faz sensíveis àquela Energia poderosa e amorosa que perpassa de ponta a ponta todo o Universo e que subjaz à nossa existência. As tradições religiosas a chamaram de Deus.
Se ela está em nós e nós somos parte do Universo, significa, então, que essa inteligência espiritual constitui uma propriedade do próprio Universo. Só porque está no Universo pôde estar em nós. Hoje, faz-se urgente dar realce à inteligência espiritual, porque vivemos numa cultura entorpecida pelo materialismo e pelo consumismo induzido.
A espiritualidade nos ajuda a sair dessa cultura doentia e agonizante. A integração da inteligência espiritual com as outras formas de inteligência nos abre para uma comunhão amorosa com todas as coisas e para uma atitude de respeito e de reverência face a todos os seres, muito mais ancestrais do que nós.

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