domingo, 9 de setembro de 2012

CRÔNICA Cartas de Toronto: Quando pacifistas declaram guerra



Na última sexta-feira, o governo conservador do primeiro-ministro canadense Stephen Harper determinou o retorno de sua missão diplomática em Teerã. O prédio vermelho de aparência fria da rua Metcafe, em Ottawa, que abriga os serviços diplomáticos da República Islâmica do Irã, recebeu uma “ordem de despejo” de cinco dias.
É esperado que os diplomatas iranianos retornem ao Irã antes de quarta-feira, deixando o Canadá após uma semana de declarações vazias do Ministro das Relações Exteriores, John Baird.
O Canadá é atualmente o lar de uma grande diáspora iraniana. Mais de 120.000 residentes canadenses declararam etnia iraniana no último censo. Alguns analistas políticos dizem que a decisão de cortar relações com o Irã acontece de forma injustificada, já que o discurso pomposo de Baird identifica aquele país como o maior perigo para a paz mundial e segurança global sem apresentar evidências para tamanha afirmação.
O Canadá tem motivos nobres para romper as relações entre os países que não foram mencionados pelo governo. Como sugere o jornalista Doug Saunders em um artigo no The Globe and Mail, a tortura seguida de morte da fotojornalista irano-canadense Zahra Kazemi, encobertas pelo governo iraniano em 2003, e a suspeita de iranianos naturalizados canadenses de que a missão diplomática iraniana em Ottawa serve para espionar ou ameaçar expatriados que vivem no Canadá, seriam motivos suficientes para justificar o fechamento da embaixada em Teerã.
Mas na ausência de uma justificativa factual, a decisão do governo canadense é vista por muitos como uma medida precipitada sob a influência da diplomacia britânica, que fechou sua embaixada após o prédio ter sido saqueado no ano passado. Os Estados Unidos cortaram relações com o Irã quando 52 americanos foram feitos reféns por 444 dias entre 1979-1981.
O Irã tem eleições presidenciais previstas para junho de 2013. A decisão da administração Harper ignora o potencial de mudança que o processo democrático poderá trazer. Como expatriada sei que é fácil admirar os valores locais e alimentar a esperança de que o seu país natal se aproximará dos padrões de segurança e honestidade vistos por aqui.

 

Para a comunidade iraniana, o rompimento das relações entre os países pode ser interpretado como o fim de um sonho. O povo canadense é um dos mais otimistas que conheço, mas como já mencionei aqui o governo Harper diverge de muitos dos valores canadenses. 

A expulsão dos diplomatas iranianos de Ottawa vem como um soco no estômago de expatriados iranianos que no Canadá tentam abraçar ambas as culturas. Ao que parece, Harper e os seus desistiram de fazer de sua nação um elo de paz e tentam declarar guerra...

Veronica Heringer é jornalista formada pela PUC-Rio, mestranda em media production pela Ryerson University e estrategista em marketing digital. Bloga noMadame Heringer.com e escreve para o Blog do Noblat aos domingos.

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