Burocracia trava vinda de mão de obra especializada
Em vários setores, profissionais são recrutados para capacitar trabalhadores brasileiros
O cenário econômico internacional desfavorável e a carência de mão de obra especializada no Brasil fazem crescer o ingresso de técnicos estrangeiros no país. Relatório da Coordenação-Geral de Imigração (CGIg) do Ministério do Trabalho e Emprego mostra que o número de autorizações concedidas a esses profissionais no primeiro semestre de 2012 aumentou 24% em relação ao mesmo período de 2011, saltando de 26.545 para 32.913.
Para especialistas em Recursos Humanos, porém, o número poderia ser ainda maior, se não fossem a burocracia e as restrições impostas pelo governo ao imigrante, um problema que está atrasando a capacitação da mão de obra local e, consequentemente, reduzindo a competitividade do setor produtivo. Entre as queixas, está o limite de permanência do profissional no Brasil e a extensa lista de documentação exigida, que deve ser traduzida e legalizada em representação diplomática.
A carência de trabalhadores especializados é um problema sentido especialmente pelos setores de óleo, gás e infraestrutura. A demanda cresceu com a descoberta do pré-sal e com a disposição do governo de corrigir deficiências históricas na situação de rodovias, ferrovias e outros gargalos logísticos.
Demanda por engenheiros
Um profissional em especial se transformou em objeto do desejo das empresas: o engenheiro. Estimativas apontam déficit anual de 20 mil profissionais da área, o que obriga as empresas a expatriar trabalhadores porque não haveria tempo suficiente para formar esses profissionais no Brasil.
São duas as formas mais comuns de imigração para trabalho: o visto temporário, de 90 dias; e o visto técnico, de um ano, renovável por igual período. Para esta segunda opção, porém, a empresa e o profissional expatriado precisam se comprometer a qualificar mão de obra brasileira. Mas a partir de 183 dias de permanência no Brasil, o profissional é considerado residente fiscal, ou seja, paga imposto como todo trabalhador local, um custo que acaba assumido pela empresa. Com essa despesa, poucos são os que se dedicam, de fato, à capacitação de brasileiros, já que cada hora trabalhada é usada para compensar o investimento. Além de prejudicar a formação, a exigência faz algumas companhias postergarem a contratação.
Gerente de operações da NES Global Talent no Brasil, empresa de recrutamento e seleção especializada no setor de óleo e gás, Giovanna Dantas conta que a empresa trouxe 25 engenheiros para o Brasil só no último mês. A executiva é uma das críticas às restrições:
— Acho que o prazo de permanência e a tributação deveriam ser flexibilizados. Estamos perdendo a oportunidade de aproveitar a presença desses profissionais no Brasil para qualificar nossa mão de obra.
Especialista na exploração de águas profundas, o engenheiro escocês Craig White está no Brasil há duas semanas para uma temporada que, se depender dele, será longa. Ajudar na capacitação de profissionais brasileiros está entre seus objetivos. Mas ressalva:
— O prazo ideal para qualificação técnica é de três anos —, diz White, que já trabalhou em Austrália, Nigéria e Vietnã.
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