MEMÓRIAS DO MENSALÃO
(Comentário aqui publicado às 9h09m de 7.6.2005)
O ministro Aldo Rebelo, da Coordenação Política, confirmou que Roberto Jefferson, presidente do PTB, se reuniu com Lula em março último; e que Jefferson contou a Lula sobre o pagamento de um mensalão a deputados para que votassem de acordo com o governo. Diante disso, o que fez Lula?
Ainda segundo Rebelo, pediu informações sobre o que ouvira a ele, Rebelo, e a Arlindo Chinaglia, então líder do PT na Câmara dos Deputados.
Os dois disseram mais tarde que o caso já havia sido investigado pela Câmara em setembro de 2004, quando uma notícia do Jornal do Brasil dera conta de que o deputado Miro Teixeira (PT-RJ) denunciaria o mensalão. Na época, Miro recuou da denúncia.
A investigação da Câmara foi engavetada em menos de 24 horas - na verdade, nem chegou a ser feita. E pronto. E foi tudo. Ou seja: não foi nada. Nadinha.
O relato de Rebelo permite ao mais idiota dos mortais concluir que Lula não deu ou não quis dar a menor importância ao que Jefferson lhe dissera. Como já não dera ao que ouvira em maio de 2004 do governador de Goiás, segundo testemunho do próprio governador.
Ao ouvir que deputados recebiam mesada para votar com o governo, Lula respondeu ao governador que o costume fora inaugurado no período Fernando Henrique Cardoso pelo ministro Sérgio Motta, das Comunicações.
Ora, um presidente da República cioso de suas atribuições, empenhado em combater a corrupção onde quer que ela se manifeste, e que alardeia comandar um governo que não rouba e que não deixa roubar, jamais poderia ter reagido como Lula reagiu ao saber por um governador e por um presidente de partido que deputados se vendiam e eram comprados.
E se vendiam para quê? Para apoiarem o governo do presidente. E quem os comprava? Só podia ser alguém interessado em ajudar o governo.
O governador de Goiás não mencionou o nome do comprador de deputados. Jefferson garante que mencionou, sim - Delúbio Soares, tesoureiro do PT. E que Lula chorou ao ouvir a história.
Rebelo desmente a menção ao nome de Delúbio e o choro. O senador Alozio Mercadante (PT-SP) alega que Lula não é homem de chorar tão facilmente. Só se o Lula de Mercadante for outro. Porque o que conhecemos chora com facilidade como tantas vezes já vimos. O que é bom.
No essencial, portanto, o que disse Jefferson em entrevista publicada pela Folha de S. Paulo não foi refutado por ninguém. Por ninguém mesmo. E como ficamos então?
Lula foi displicente, relapso e irresponsável por não ter mandado apurar com rigor o que primeiro ouviu do governador de Goiás - e o que depois ouviu de Jefferson.
O que respondeu ao governador de Goiás (que a compra de deputados datava do governo Fernando Henrique) prova que sabia, sim senhor, sabia o que se passava a poucos metros do Palácio do Planalto. E que aparentemente não estava nem aí, nem aí.
Afinal, no passado ele não apontara a Câmara dos Deputados como um reduto de 300 picaretas? Em Roma, como os romanos. Vai ver que entre picaretas, como um deles.
Cabe à Câmara dar razão ao Lula que se indignava com a picaretagem. Ou ao Lula que agora parece conformado com ela.
Nenhum comentário:
Postar um comentário