terça-feira, 24 de julho de 2012

Quem se abala?, por TT Catalão



TT Catalão
O Brasil tem até uma bancada da dita cuja no Congresso: a bala. Bala de prata é aquela de misericórdia que encerra o ato macabro do fuzilamento. Bala com bala cantou João Bosco. Balas em gôndolas de supermercados (a barbárie em Columbine foi municiada pela liquidação do WallMart). E agora, o mais recente psicopata na tragédia de Batman afirma ter adquirido seu arsenal pela internet.
O tal “cavaleiro das trevas”, o da HQ, não é chegado a matanças coletivas e é sombrio só pelos traumas dos morcegos e cavernas pós-assassinato dos seus pais. Batman chegou a ser um herói cafonérrimo na fase da série de TV com seu amiguinho íntimo Robin em trejeitos pra lá de suspeitos no padrão virilidade.
Foi Frank Miller que o fez retornar às origens traumáticas em seu universo obscuro de inimigos patológicos nutridos no asilo Arkham. Local de onde deveria ter saído o cara que se fantasia de matador. Ato que teve direito a uma glamurosa “reconstituição” computadorizada na TV cujo efeito só deve alimentar o “charme” psicótico dos futuros tresloucados no desejo mórbido de ser notícia e sair do zero para ser alguma coisa.
O cara não oferecia traços de tamanha perversão. É sempre assim: bons vizinhos que não incomodam ninguém, esquisitões sem provas de afeto, aspecto saudável no caminho do mercado de trabalho etc. Mas tem armas e balas em promoções espetaculares ao lado do novo iPad.
Não que a facilidade (ou a ocasião) faça o crime. Na clandestinidade se consegue balas e armas sem maiores restrições. Na raiz estão valores que reforçam o isolamento totalitário ante tudo que possa significar relação com o próximo, percepção do outro, compartilhamento, compaixão (sentir junto), convivência, enfim, algum encantamento com o que está fora do meu mundinho.
E quem se abala? Surge a enxurrada de culpas e porquês exatamente nas áreas que não percebem o quanto uma indústria da morte se alimenta de doses diárias de narcose, narciso e morbidez oferecidas diariamente para reforçar o ovo da serpente.
Nos valores que são idolatrados como alto padrão de vida e consumo ou signo de celebridade.
Sem generalizar não há explicação simplória para tamanha complexidade entre causa e efeito.
Não há padrão para comportamentos em desvio tão profundo. Principalmente por ocorrer com “gente que tinha tudo para dar certo”. Talvez este tudo, muito sobrecarregado em tanto ter, colabore na alienação do muito que precisamos ser para nos tornarmos seres humanos. É lutar antes para evitar LUTO depois!


TT Catalão é jornalista

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