sábado, 16 de junho de 2012

Setores liberais do Paquistão denunciam ameaças do aparelho de segurança


publicado em 16/06/2012 às 10h09:
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P. Miranda. Islamabad, 16 jun (EFE).- As ameaças de morte no Paquistão à advogada e ativista dos direitos humanos Asma Jahangir são vistas dentro e fora do país como um novo ataque do aparelho de segurança contra os setores liberais da sociedade local. Na segunda-feira passada, a Comissão de Direitos Humanos do Paquistão (HRCP) presidida por Jahangir até 2010, informou sobre as ameaças após receber uma informação vazada por uma fonte "muito confiável", e acusou "atores estatais muito privilegiados". A denúncia da HRCP contra o "establishment" de segurança paquistanês foi assinada por cerca de 40 intelectuais, jornalistas, advogados e inclusive ex-membros do governo e das Forças Armadas. No dia seguinte à revelação das ameaças, a própria Jahangir acusou "autoridades de segurança de alto nível" e afirmou, com sua habitual eloquência, que os militares não decidiriam o futuro do Paquistão em vez dos cidadãos. A advogada, que significou muito nas denúncias contra as violações de direitos humanos na conflituosa província do Baluchistão, disse que é preciso interromper o assassinato de intelectuais progressistas "a qualquer preço". Jahangir também se viu envolvida no escândalo conhecido como "memogate", caso aberto pelo suposto pedido de ajuda do governo do Paquistão ao Pentágono - Departamento de Defesa dos Estados Unidos - diante do temor de um golpe de Estado militar no país asiático após a morte do líder terrorista Osama bin Laden no ano passado. A advogada assumiu a defesa do principal réu do caso, o ex-embaixador paquistanês nos EUA Hussain Haqqani, que teria sido o transmissor da mensagem do governo às autoridades de Washington. "Asma tocou em pontos muito sensíveis com temas como Baluchistão e o 'memogate'", disse à Agência Efe a presidente da HRCP, Zohra Yusuf, para quem o aparelho militar e de segurança "foi longe demais". Organizações internacionais de direitos humanos se uniram à denúncia. Até a alta representante das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Navi Pillay, demonstrou apoio a Jahangir como símbolo da democracia em sua visita ao Paquistão na semana passada. Pillay disse que casos como o da advogada paquistanesa transmitem a "triste mensagem" de que as reformas democráticas no país podem ser minadas facilmente "por forças estatais e não estatais que não se importam com a democracia". "A democracia real só se consegue se todas as instituições do Estado respondem ao governo e a uma judicatura independente", declarou em entrevista coletiva a alta representante da ONU, que visitou pessoalmente Jahangir em sua casa na cidade de Lahore. Nos últimos dois anos, houve outros casos de ameaças a pessoas vinculadas ao que no Paquistão se denomina "setor liberal" ou "progressista", um segmento da elite que defende uma visão integradora e democrática do país. A democracia paquistanesa está ainda em processo de consolidação e os governos civis regeram menos da metade dos 65 anos de história da nação, enquanto o estamento militar e os serviços de inteligência mantêm amplas parcelas de poder. "Como podem os progressistas atuarem no Paquistão se não têm a mínima proteção da lei e das instituições estatais?", lamentou o veterano professor universitário Hassan Mehdi, ex-presidente da HRCP e destacado defensor dos direitos humanos. Mehdi lembrou que, em 2011, o então governador da província de Punjab e destacado liberal, Salmaan Taseer, e o então ministro de Minorias do governo, Shahbaz Bhatti morreram assassinados em casos praticamente não investigados. Quem também recebeu ameaças de morte no ano passado foi a atual embaixadora paquistanesa nos EUA, Sherry Rehman, ex-jornalista e membro do mesmo círculo progressista - ela permaneceu reclusa sob estrita vigilância até ser destinada para fora do país. "Há um conflito e vemos que as agências de segurança se alinhando com os extremistas religiosos contra os progressistas. É uma mistura muito perigosa", advertiu Zohra Yusuf. O texto remitido pela HRCP indica que a perseguição contra Jahangir não significa apenas uma conspiração para matar um indivíduo, mas "um complô contra o futuro do Paquistão como Estado democrático". EFE pmm/sa

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