Enviado por Sandro Vaia -
04.05.2012
|09h44m
POLÍTICA
O PMDB, que ia tão divertido, leve e solto para a CPI do Cachoeira, embora achasse a sua instalação uma insensatez, ganhou alguns motivos para cair em si e colocar alguns pés atrás.
Se o maior partido de apoio da base aliada aparentemente só tinha a lucrar com a sua posição de muro de arrimo de qualquer eventualidade que viesse a incomodar o governo, viu-se de repente na condição de também ter que explicar algumas coisas.
Se não o partido como tal, pelo menos o governador Sérgio Cabral, como uma de suas figuras proeminentes.
As fotos e os vídeos da divertida e breguissima turnê etílico-gastronômico-cultural do governador do Rio, de alguns de seus secretários e do amigo do peito Fernando Cavendish, dono da operosa empreiteira Delta, por luxuosos hotéis franceses, vazados pelo blog do ex-governador Antony Garotinho, introduziram pelo menos mais um complicador no cenário de uma CPI já atrapalhada pela própria natureza.
Além de Demóstenes, carta fora do baralho da sobrevivência política, os grandes vetores da CPI seriam os governadores Marconi Perillo e Agnelo Queiroz, além do próprio Cachoeira e do dono da Delta, Fernando Cavendish.
Junte-se a eles, agora, Sergio Cabral, que deveria explicar não o gosto duvidoso de suas farras , mas a relação promíscua com um contratado para executar obras públicas.
Os primeiros passos da CPI, depois de formada, foram titubeantes. Tentou-se circunscrever o escopo das investigações sobre a Delta às suas atividades no Centro-Oeste, como se fosse possível isolar geograficamente as práticas duvidosas de suas relações com o poder público.
Com um pouco de esforço, derrubou-se essa barreira.
A convocação dos governadores envolvidos foi tratada com luvas de pelica. Ninguém parece querer dar o primeiro passo mais ousado, com medo de provocar o ímpeto revanchista do lado afetado.
Todo mundo parece pisar em ovos e preocupado em evitar um possível efeito bumerangue que redirecione a artilharia para suas próprias tropas.
Se a CPI avançar nesse ritmo, e as investigações forem sendo limitadas às atividades do contraventor Carlinhos Cachoeira e às suas relações com o seu preposto Demóstenes Torres, ela se tornará inútil, porque qualquer investigação policial rotineira poderia dar conta dessa questão.
O único fato novo realmente relevante da questão da CPI, é a chegada ao palco do governador Sergio Cabral e seu séquito, que atraiu a atenção sobre as relações promíscuas entre a empreiteira e as autoridades encarregadas de contratá-la e de auditar os contratos.
Embora alguns peemedebistas tenham comemorado o fato de Sergio Cabral ser obrigado a “descer de seu pedestal” para se explicar, o fato é que o partido perdeu a inocência que lhe dava a superioridade tática de poder usar a sua força para conseguir manipular a sua relação de garantidor dos interesses do governo no decorrer da investigação.
Agora está em pé de igualdade com os outros protagonistas.
Se o empenho em blindar Cabral, Perillo, Agnelo e Cavendish continuar, a CPI tenderá a ser uma ação entre amigos onde só perderão os dedos e os anéis aqueles que já os perderam : Cachoeira e Demóstenes.
Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor do livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez. E.mail: svaia@uol.com.br
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