Enviado por Jorge Antonio Barros -
26.4.2012
|15h40m
OPINIÃO
O papel do governo federal na segurança pública
Por Julita Lemgruber*
Em 5 de dezembro de 2002, publiquei artigo no GLOBO intitulado "Meu Caro Luiz Ignacio". Naquele momento, chamava a atenção de Lula para a urgência de o governo federal assumir o papel de indutor de políticas de segurança pública, como prometido durante a campanha. Aliás, eu me sentia confortável na cobrança, na medida em que contribuíra para o Plano Nacional de Segurança Pública defendido pelo candidato do PT.
Com a saída de Luiz Eduardo Soares da Secretaria Nacional de Segurança Pública, ainda em outubro de 2003, o governo Lula riscou o tema da pauta de prioridades do governo federal. No segundo mandato, porém, a situação se alterou bastante. Criaram-se, justamente na Senasp, programas importantes de apoio à capacitação de policiais, ações sistêmicas de prevenção à violência na periferia de algumas cidades do país e houve evidente estímulo a políticas de segurança pública comprometidas com os direitos do cidadão. Ao lado do Ministério da Justiça, a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República assumiu publicamente a responsabilidade de fortalecer mecanismos de controle da violência policial. Lamentavelmente, considerando o que vem acontecendo nos últimos meses, parece que, mais uma vez, estamos voltando atrás.
Induzir políticas de segurança pública que contribuam para reduzir a tragédia brasileira dos quase 50.000 homicídios por ano e os altíssimos níveis de violência policial (984 pessoas mortas em 2011 só pelas polícias do Rio e São Paulo) é responsabilidade não apenas dos estados, mas também dos municípios e do governo federal. É imprescindível que este exerça um papel de liderança, coordenação e indução, para que se obtenham avanços efetivos na área.
Mas não é o que estamos vendo agora. Além de terem sido abandonados diversos programas de capacitação das polícias e de prevenção à violência, no âmbito do Ministério da Justiça, a Secretaria de Direitos Humanos acaba de extinguir, na prática, a Coordenação de Direitos Humanos e Segurança Pública que vinha se empenhando em pautar o debate público sobre a necessidade de fortalecer os controles interno e externo da atividade policial no âmbito de um estado democrático.
A presidente da República, com sua força e coragem, não deve permitir que o seu governo seja acusado de descaso frente à calamitosa situação da segurança pública no país e deve liderar a retomada do protagonismo do governo federal nessa área. Vencemos a inflação; estamos, aos poucos, vencendo a miséria e precisamos também vencer nossos altíssimos índices de violência. O governo federal não pode se omitir nessa luta. *Ex-Ouvidora de Polícia, ex-Diretora Geral do Departamento do Sistema Penitenciário no Rio de Janeiro e coordenadora do CESeC/UCAM
As informações contidas neste e-mail, incluindo seus arquivos anexos, são sigilosas e dirigidas para uso restrito da SBI, podendo estar legalmente protegidas. Não sendo o seu destinatário, saiba que sua leitura, divulgação e/ou qualquer forma de utilização são proibidas. Se você recebeu tais informações por engano, por favor, avise imediatamente ao remetente. As opiniões pessoais do autor da mensagem não refletem, necessariamente, o posicionamento da instituição, não sendo a SBI, portanto, responsável pelo seu conteúdo.
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*Julita Lemgruber foi ouvidora de Polícia e diretora-geral do antigo Departamento do Sistema Penitenciário do Rio de Janeiro. O artigo foi publicado na página de opinião do jornal O GLOBO de hoje.
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