Fonte: Carta Capital
Investigada pela Polícia Civil por suposto superfaturamento num jogo “festivo” entre Brasil e Portugal, em 2008, a empresa Ailanto Marketing funcionou durante meses numa fazenda de propriedade do presidente da CBF, Ricardo Teixeira. A revelação foi feita nesta quarta-feira 15 em reportagem do jornal Folha de S.Paulo.
A empresa de marketing pertence ao presidente do Barcelona, Sandro Rosell – ex-executivo da Nike no Brasil e amigo de Teixeira há pelo menos uma décadas. Para realizar o amistoso, que marcou a reinauguração do estádio Bezerrão, a Ailanto cobrou 9 milhões de reais do governo do Distrito Federal, à época governado por José Roberto Arruda – preso e cassado em meio ao chamado “mensalão do DEM”. Os indícios de superfaturamento e irregularidades levaram o Ministério Público do Distrito Federal a mover, em 2009, uma ação de improbidade administrativa contra Arruda e o então secretário de Esportes, Aguinaldo de Jesus.
Com a revelação, o enredo repleto de denúncias e obscuridades de Ricardo Teixeira à frente da CBF tem mais um capítulo. Um documento obtido pela Folha de S. Paulo comprova que, por 26 meses, a Ailanto foi dona da empresa VSV Agropecuária Empreendimentos Ltda, sediada na fazenda de Teixeira em Piraí, a 80 km do Rio.
A companhia agropecuária havia sido registrada na Junta Comercial do Rio apenas oito dias antes do amistoso realizado no Distrito Federal, entre as duas seleções e foi extinta em 14 de janeiro de 2011. No entanto, funcionários que trabalhavam na fazenda do presidente da CBF negaram ao jornal que a VSV alguma vez tenha funcionado ali.
A narrativa se associa a Teixeira quando os sócios da VSV são revelados: Sandro Rosell, dono da Alianto, amigo de Teixeira e sócio da mulher do mandatário em outra empresa, e Vanessa Precht, secretária de Rossel.
Vanessa já havia aparecido em investigações da Polícia Civil de Brasília, quando descobriu-se que o apartamento dela constava como sede da Ailanto em 2008. Em agosto de 2011, a polícia fez operação de busca e apreensão no apartamento de Vanessa Precht, no Rio.
Contudo, desde 2010, a Polícia Civil do Distrito Federal já apura suposto superfaturamento em gastos da Ailanto no jogo. A suspeita de superfaturamento do amistoso de 2008 corre na Justiça Federal do DF.
Teixeira sempre negou relacionamento com a Ailanto. Alegava que o amistoso era responsabilidade da empresa – contratada sem licitação pelo governo do DF. Por isso, dizia que não poderia responder sobre as suspeitas.
A partir de agora, a história muda. O ocaso do manda-chuva do futebol brasileiro ficou mais nítido. Em outubro, o jornalista investigativo Andrew Jennings, autor do livro Jogo Sujo – O Mundo Secreto da Fifa (Panda Books, 351 págs., R$ 49,90), que denuncia um suposto esquema de corrupção na Federação Internacional de Futebol (Fifa) envolvendo Teixeira, disse à emissora de tevê ESPN Brasil que quer ver o cartola na cadeia. O britânico participou como convidado da Comissão de Educação, Cultura e Esporte no Senado nesta quarta-feira 26.
O jornalista da rede britânica de rádio e televisão BBC afirmou que Teixeira teria recebido nos anos 1990 cerca de 9,5 milhões de dólares e João Havelange, ex-presidente da Fifa, 1 milhão de dólares de propina via uma empresa de Liechtenstein. A companhia seria parceira da ISL, firma ligada à entidade máxima do futebol e responsável pelo marketing esportivo e negociações de transmissões de jogos na televisão. A companhia faliu em 2001.
Na audiência, Jennings apontou que a dupla brasileira foi investigada pelo governo suíço e Teixeira teria admitido os pagamentos irregulares. No entanto, a Fifa, segundo o jornalista, conseguiu embargar na Justiça da Suíça a divulgação do documento. “Blatter insulta a todos ao dizer que o relatório é legalmente muito complexo. Coloque o documento na internet agora, pois temos advogados que podem nos ajudar a compreendê-lo”, disse.
Apesar das evidências, Teixeira se safou de uma penalidade maior. Resta saber se sobreviverá à nova acusação.
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