domingo, 15 de janeiro de 2012

Endividamento da população: o Governo tem culpa?


07 de junho de 2011 • 10h28Por: Equipe InfoMoney
A expansão do crédito é, do ponto de vista econômico, determinante para o crescimento do consumo e para a realização de novos investimentos na produção. Do ponto de vista social, a expansão do crédito favorece a melhora do bem-estar da população, devido ao acesso de bens e serviços. Para o empreendedorismo (para os velhos e novos negócios), o crédito é fundamental para transformar ideias e projetos em realidade.
Os benefícios que o crédito oferece para a economia e para a sociedade são reais. Porém, o uso sem controle pode causar enormes danos ao sistema econômico e sequelas à população. Numa sociedade com forte propensão ao consumo, como a brasileira, a expansão desordenada e acelerada dos meios de crédito pode esconder perigosas bolhas no futuro, vide o passado recente dos EUA.
Como exemplo do mau uso do crédito, temos a alavancagem financeira que certas modalidades oferecem. Nesse caso, uma pessoa que não possui restrição nas empresas de proteção ao crédito e com rendimento médio comprovado de aproximadamente R$ 2.000 consegue facilmente abrir contas bancárias, com limite mínimo de 50% (ou mais) da renda, e obter a mesma proporção de cartões de crédito. Ou seja, o poder de compra, que antes era de apenas R$ 2.000, com a alavancagem salta para mais de cinco vezes.
De maneira simples, o conceito da alavancagem financeira pode ser descrito como o uso do capital de terceiros, geralmente empréstimos bancários, nas operações de uma empresa. Porém, a alavancagem de empresa difere do abordado até aqui, pois nesse caso se deduz que as pessoas utilizam recursos de terceiros, bancos, para o seu próprio consumo, sem o objetivo de investir. E aí reside um problema: o endividamento das pessoas está atrelado à renda, e não ao investimento futuro, como normalmente aplicado pelas empresas, e o consumo de bens não implica ativo que trará retorno no futuro.

"Numa sociedade com forte propensão 
ao consumo, como a brasileira, a expansão 
desordenada e acelerada dos meios de crédito 
pode esconder perigosas bolhas no futuro"
A alavancagem desordenada do consumo das pessoas, por exemplo, é resultado da inexistência de regulação para a tomada de crédito e do afrouxamento do sistema bancário em relação às linhas ofertadas. A competição bancária e as margens de lucratividade são indutores da alavancagem creditícia, pois os maiores ganhos dos bancos são reportados dos meios de crédito.
Diante do aumento ano a ano do crédito e das suas modalidades, fica uma pergunta: quem deveria limitar a alavancagem do consumo das pessoas oriundas do crédito? De fato não seria o papel dos bancos propor autorregulação, pois os interesses das principais instituições bancárias levam a crer que o mercado se regula naturalmente. Seria então do Estado? Sim, seria papel do Estado propor limites para a alavancagem do consumo das pessoas por meio do crédito, impondo restrições aos bancos. A falta de regulação bancária no campo da alavancagem levou os EUA a uma das piores crises econômicas da sua história.
Em relação à economia brasileira, observam-se sinais semelhantes, mesmo que em dimensões diferentes. A propensão ao consumo do brasileiro, a falta de educação financeira e a competição bancária são elementos perigosos quando descuidados.
Ricardo Jacomassi é economista, professor e estrategista de investimentos e escreve mensalmente na InfoMoney.
ricardo.jacomassi@infomoney.com.br

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