Rompimento de barragem em Mariana causou mortes em Minas; lama atingiu rio Doce, até Espírito Santo, e chegou ao oceano
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A barragem que se rompeu em Mariana (MG) no dia 5, provocando um desastre ambiental histórico que já chegou até ao litoral capixaba, também tinha lama da Vale, maior mineradora do Brasil.Uma das acionistas (ao lado da anglo-australiana BHP Billiton) da Samarco, responsável pela barragem, a Vale utilizava a área para despejar rejeitos de minério de ferro de suas atividades na região.
A lama encaminhada pela Vale para a barragem de Fundão vinha de uma mina conhecida como Alegria, que integra um complexo operacional da empresa na região.
A mina fica a cerca de 25 km do distrito de Bento Rodrigues, primeiro alvo do "tsunami de lama" e que ficou completamente destruído.
A Vale confirmou à Folha que mantinha um contrato com a Samarco para utilizar a barragem como destinação de seus rejeitos, mas afirmou que sua lama correspondia a menos de 5% do total depositado em Fundão.
Embora seja acionista da Samarco, a Vale até agora não admitiu qualquer responsabilidade pela tragédia. Nos pronunciamentos feitos pela mineradora e por seus diretores não houve menção aos rejeitos que a empresa depositava na barragem.
Clique e veja o infográfico "Rastro da lama" |
As causas do rompimento ainda são desconhecidas, e só uma investigação poderá dizer se a quantidade de lama enviada pela Vale estava ou não dentro das normas.
A tragédia que afetou cidades de Minas Gerais e do Espírito Santo foi provocada pelo rompimento da barragem –que resultou no vazamento de ao menos 40 bilhões de litros de lama e no transbordamento também da barragem de Santarém, que fica logo abaixo da do Fundão.
O desastre deixou ao menos oito mortos –11 pessoas ainda estão desaparecidas e quatro corpos aguardam identificação–, além de ter destruído a fauna e a flora por onde a lama passou.
O rejeito, que contaminou praticamente todo o rio Doce, chegou no fim de semana ao mar do Espírito Santo.
O governo federal classificou o episódio como a maior tragédia ambiental já ocorrida na história do país.
A Samarco (que é presidida por Ricardo Vescovi) e a Vale (que tem Murilo Ferreira como presidente) mantêm várias atividades operacionais conjuntas na região de Mariana. O compartilhamento da barragem é uma delas.
O rejeito da mina de Alegria era transportado para a barragem de Fundão por meio de linhas de transmissão que foram destruídas no acidente, segundo relatos obtidos pela Folha. A Vale, no entanto, afirma que a informação não procede.
Questionada sobre desde quando utilizava a barragem de Fundão para depositar seus rejeitos, a assessoria de imprensa da Vale não respondeu à reportagem, alegando não dispor de tal informação.
Desde a tragédia em Mariana, as atividades das duas mineradoras na região tiveram que ser reduzidas.
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OUTRO LADO
A Vale confirmou à Folha nesta segunda-feira (23), por meio de sua assessoria de imprensa, que utilizava a barragem de Fundão para depositar rejeito de minério de ferro proveniente das usinas de tratamento da mina de Alegria, em Mariana (MG).
Segundo a empresa, ela destinava à barragem de Fundão "menos de 5% do total de rejeito" depositado na barragem da Samarco anualmente. "A relação era regida por contrato entre as duas empresas, que definia a Samarco como responsável pela gestão, controle e operação dessa deposição", afirmou a Vale.
Procurada pela reportagem nesta segunda-feira, a Samarco não se manifestou até a conclusão desta edição.
Ainda segundo a Vale, seus rejeitos eram encaminhados apenas para a barragem de Fundão. As outras duas barragens próximas, de Santarém (danificada pelo desastre) e de Germano (que apresenta problemas), não receberam lama da empresa, afirma a mineradora.
A assessoria de imprensa da Vale nega que as linhas de transmissão do rejeito da mina de Alegria tenham sido destruídas devido ao rompimento da barragem.
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