segunda-feira, 3 de agosto de 2015
O operador Milton Pascowitch, delator da Lava-Jato, afirmou ter pago uma série de serviços pessoais ao ex-ministro José Dirceu e seus familiares como forma de repassar propina das empresas que ele representava. Segundo o Ministério Público Federal, o dinheiro de Pascowitch foi utilizado para pagar parte de um jatinho, despesas de táxi aéreo e reformas em imóveis do ex-ministro, do seu irmão e até para a compra de um apartamento para a filha de José Dirceu. O delator teria gasto pelo menos R$ 4,5 milhões com José Dirceu. Além disso, a Jamp Engenheiros, de Pascowitch, pagou R$ 1,4 milhão a José Dirceu a titulo de “consultoria” em 2011. O delator afirmou que contratou a Construtora Halembeck Engenharia para reformar o imóvel do irmão de José Dirceu, Luiz Eduardo de Oliveira e Silva. O serviço, em um apartamento na Rua Estado de Israel, na Vila Mariana, Zona Sul de São Paulo, custou de R$ 1 milhão a R$ 1,2 milhão. Durante as obras, Pascowitch telefonou 62 vezes a Marcelo Amaral Halembeck, dono da construtora. Pascowitch afirmou ainda ter contratado a arquiteta Daniela Facchini entre o fim de 2012 e o início de 2013 para reformar um imóvel localizado em Vinhedo, no interior de São Paulo, no mesmo condomínio onde o ex-ministro mora. A reforma custou R$ 1,3 milhão, e o imóvel, informou o colaborador, está registrado em nome da TGS Consultoria, de responsabilidade de Júlio Cesar dos Santos, ex-sócio da JD Consultoria, e que também teve prisão temporária decretada nesta segunda-feira. Ainda na lista de serviços pessoais, Pascowitch utilizou sua empresa, a Jamp, para comprar um imóvel para Camila Ramos de Oliveira e Silva, filha de José Dirceu, em maio de 2012. Com isso, teria gasto R$ 500 mil. O delator disse que pagou para José Dirceu, em julho de 2011, metade de uma aeronave Cessna, modelo 560 XL, prefixo PT-XIB, avaliada em R$ 2,4 milhões. Pascowitch disse que o pagamento fazia parte de repasses devidos por ele em contratos das empresas Engevix, Hope e Personal. Outro delator da Lava-Jato, o doleiro Alberto Youssef disse que o avião seria do consultor Júlio Camargo, da Toyo Setal. Segundo Pascowitch, Julio Camargo pagava as despesas do avião. O negócio chegou a ser desfeito, segundo o delator, porque José Dirceu foi “visto por jornalistas usando a aeronave”. Em 14 de outubro de 2010 e em 26 de março de 2012,o operador teria pago fretamentos de táxi aéreo junto à empresa Flex Aéro para José Dirceu, nos valores de R$ 78 mil e R$ 54 mil, respectivamente. Pascowitch disse que recebia pedidos frequentes para fretar aviões feitos pelo escritório da JD por meio de Luiz Eduardo (irmão de Dirceu) e de Roberto Marques, o Bob, assessor pessoal do ex-ministro. Quando precisava fretar aviões para José Dirceu, o delator ligava para Rui Aquino, presidente da Flex Aéro, que faturava os valores a preços reduzidos, já que a diferença do valor “real era pago, em espécie (dinheiro vivo), com recursos que vinham das contribuições efetuadas pelas empresas Hope e Personal Service (empresas de terceirização de mão de obra com contratos junto à Petrobras). A Jamp, de Pascowitch, pagou também R$ 400 mil da entrada do imóvel onde funcionava a sede da JD Consultoria, ao lado do Parque do Ibirapuera, segundo revelou ao juiz Sérgio Moro o próprio advogado de José Dirceu, Roberto Podval. O imóvel da JD foi adquirido em maio de 2012 por R$ 1,6 milhão e a Jamp pagou a entrada de R$ 400 mil, conforme disse Podval. O restante teria sido pago em 161 prestações financiadas pelo Banco do Brasil. A Receita Federal havia considerado a movimentação financeira incompatível com as declarações de Imposto de Renda de José Dirceu, pois os R$ 400 mil não circularam por suas contas. Em 2012, José Dirceu declarou à Receita ter movimentação financeira de apenas R$ 229.121,93, insuficiente para o pagamento da entrada. No registro feito em cartório, no entanto, o Banco do Brasil avaliou o imóvel em R$ 3,03 milhões, apesar de o negócio ter sido fechado por R$ 1,6 milhão. O ex-diretor de Serviços da Petrobras, o petista Renato Duque, também recebeu propina de Milton Pascowitch por meio de serviços pessoais, imóveis e obras de arte. A reforma de um apartamento em São Paulo, que custou entre R$ 700 e R$ 800 mil, foi feita pela mesma arquiteta que reformou um apartamento de José Dirceu: Daniela Facchini entre 2012 e 2013. O imóvel fica na Rua Barão do Triunfo e está registrado em nome da Hayley, empresa também investigada pela Operação Lava-Jato, como transferidora de propina. O operador pagou cerca de R$ 800 mil para a construção de uma cobertura na Barra da Tijuca entre 2010 e 2011. A origem do repasse, segundo Pascowitch, seria a propina de contratos das empresas Hope e Personal. No prédio, aponta a investigação, a família de Renato Duque tem três apartamentos. Assim como já foi mostrado em outras fases da Lava-Jato, a propina também chegou a Renato Duque por meio da aquisição de obras de arte. Pascowitch afirmou que comprou, em setembro de 2012, uma escultura do artista polonês Frans Krajcberg. Em abril de 2013, adquiriu para Renato Duque uma quadro do pintor brasileiro Alberto da Veiga Guignard no valor de US$ 380 mil. O dinheiro também ia para o ex-diretor da Petrobras por meio de depósitos. Pascowitch afirmou que pagou R$ 1,2 milhão em propina para a D3TM Consultoria, entre 2013 e 2014, correspondente a propinas pendentes das empresas que ele representava. A Operação Lava-Jato identificou ainda um depósito de R$ 50 mil feito pelo operador na conta de Daniel Duque, filho de Renato Duque. Esses pagamentos correspondem a acertos de propina dentro do Brasil, embora a maior parte Renato Duque tenha recebido em dinheiro vivo, conforme relatos de delatores da Lava-Jato. Renato Duque teve ainda 20 milhões de euros bloqueados em contas no Principado de Mônaco.
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