Ameaças, por um lado, e acenos com cargos no segundo escalão do governo, por outro, não foram suficientes para evitar a vexaminosa derrota do PT na eleição para a presidência da Câmara dos Deputados. Mas os inquilinos do Palácio do Planalto só conhecem esse modo de fazer política e, agora, é a vez de exercer pressões e prometer benesses para recompor a tão famosa quanto frágil base de apoio no Parlamento.
A ironia dessa história é que, comprovada acima de qualquer dúvida a influência do deputado fluminense Eduardo Cunha sobre os outros membros da Casa disponíveis para um acordo com o governo, serão agora ele próprio e seu grupo dentro do PMDB que certamente mais se beneficiarão com a distribuição de prebendas com as quais a presidente Dilma Rousseff pretende amenizar as agruras de sua convivência com a Câmara dos Deputados. O PT e a presidente da República, definitivamente, não vivem seus melhores momentos.
Ao aparecer com cara de poucos amigos na solenidade de reabertura dos trabalhos do Congresso Nacional na segunda-feira, o principal arquiteto do desastrado plano de jogar toda a pressão do governo Dilma sobre os deputados para evitar a vitória de Eduardo Cunha, o ministro Aloizio Mercadante, da Casa Civil, anunciou: "A partir deste momento começam as negociações com os partidos para definir o segundo escalão e buscar combinar o critério técnico com o critério político do apoio parlamentar no Congresso".
Explicou ainda o ministro-chefe da Casa Civil que essa nova etapa será realizada "sob o comando da presidente Dilma, ela que vai evidentemente decidir essa distribuição de cargos". Colocada nesses termos a coisa até parece normal. Mas não é.
A articulação política e a formação de alianças fazem parte do jogo democrático. E, embora sejam perfeitamente admissíveis acordos pontuais, a ideia implícita no princípio da aliança política é que ela se construa sobre programas e propostas de governo. Conquistar apoios na base da troca de favores, o chamado toma lá dá cá, como é o caso da distribuição de cargos que Mercadante anuncia, tem outro nome: fisiologismo.
O governo petista, de qualquer modo, já deixara explícita sua intenção, reiterada agora pelo chefe da Casa Civil, de reservar os cargos do segundo escalão para o toma lá dá cá, ao anunciar, em janeiro, que isso seria feito após eleitos os presidentes do Senado e da Câmara. Ou seja, o governo pretendia, como o fez, intervir em questões do Legislativo, tentando aliciar entre os deputados, em troca da promessa de nomeações para cargos públicos, eleitores para seu candidato à presidência da Câmara, o deputado paulista Arlindo Chinaglia.
O ministro Aloizio Mercadante vem agora, sem corar, com a conversa de que o segundo escalão do governo será montado mediante a combinação do "critério técnico da competência com o critério político do apoio parlamentar no Congresso". Como se o que menos tem interessado ao governo da sua chefe Dilma Rousseff - que preside um desastre econômico e administrativo iniciado há mais de quatro anos e parece continuar - não venha sendo a competência técnica dos funcionários que nomeia.
Com a intenção ainda de conferir uma aura de respeitabilidade ao troca-troca, Mercadante garantiu que a operação será realizada "sob a condução" de Dilma. Mais uma vez, não é bem assim. É claro que ela tem a palavra final sobre as nomeações. Mas trata-se de centenas de escolhas que, por mais centralizadora que seja, Dilma não conseguiria fazer sozinha. O que significa que terá de confiar nas indicações de ministros e assessores.
E da presidente em exercício não se deve esperar mais do que ela já demonstrou ser capaz de dar nos últimos quatro anos. Se tentou livrar-se de maus auxiliares no início do seu governo, logo desistiu da "faxina". O padrão administrativo da sua gestão é representado pelo desastre das contas públicas e dos índices econômicos. O padrão ético está sendo revelado no "petrolão".
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