Da coluna do Augusto Nunes
Escrevo estas mal traçadas linhas enquanto o cheiro de piloto jordaniano queimado ainda pode ser sentido pelas redes sociais, embora o episódio tenha acontecido ainda em janeiro. É evidente que uma pergunta se repete toda vez que aquela gorilada brande suas armas e monta seu circo de matar inocentes: de onde vem a grana? Quem banca aquela farra em nome de “Deus é grande”?
É realmente díficil entender “a nova estética” da brutalidade dessa gente. Me parece que os neurônios rudes encontraram uma ligação direta entre o prazer e a submissão, entre a dor e a sublimação. “Falta bolinação naquelas terras”, garante uma entidade baiana que conheço. Deve ser. Quem lembrar de Pulp Fiction e seus detalhes sórdidos lembrará que um “escravinho” é mantido preso na loja onde serão seviciados o lutador e seu mecenas. Ele é liberado dos grilhões e das indumentárias que o flagelam apenas para servir aos seus donos.
A indigesta semelhança com a hipócrita noção de recato que essa gente defende, aquela que coloca a mulher “em seu devido lugar e papel”, é um exemplo acabado de que a evolução da espécie bateu pinos naquelas terras secas. A noção de sexo de gente assim é totalmente pervertida; pessoas saem do interior de seus casulos de roupas, com aqueles narizes enormes em riste e barbas por fazer – de ambos os “amantes” – e promovem um ritual de brutalidade e perversão, diametralmente oposto ao encontro de almas em sintonia ensejado numa relação amorosa normal.
A insistência em caricaturar o ato amoroso como um ritual de provocações e liturgias, misturando a natureza e a religiosidade num balaio esquisito, é a prova cabal do sexo a três que é imposto a esse mundo igualmente estranho. Lá é você, o outro e o Estado. Qualquer tentativa de não levar o Estado para a cama é punida com dezenas de chibatadas. Um porre. Venho reiterando que quem não brinca na infância acaba por querer brincar com brinquedos esquisitos na idade adulta.
O Estado Islâmico e a Pétrobras não se diferenciam muito no potentado que tentam erigir dos escombros dessas sociedades. O que os distingue é apenas a divulgação dos métodos de tortura e morte dos seus abusados. Enquanto no primeiro elas são uma decisão estética e individual, desenhada para chocar o mundo livre pela barbárie que ensejam, no califado dos velcros colados daqui ela se dá por um tortuoso caminho que começa no desvio de verbas públicas para manter uma macacada no poder e passa pela falta dessas mesmas verbas para as necessidades básicas da sociedade.
Quanto menos câmeras registrarem a nossa guerra por submissão, melhor será para os orangotangos de plantão. É justamente aí que as duas realidades aparentemente tão opostas se encontram. A grana para montar o califado da barbárie vem do pedágio pago pelas drogas para entrar na Europa via África. Bingo. Agora fica fácil entender o fascínio pela baioneta que ambos cultuam sobre a pobre sociedade que oprimem. Eles são irmãos, na defesa cristalizada que fazem de suas negações de infância. Faltou um degrau na evolução dessas espécies. O degrau da decência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário