quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Blindar a Petrobras contra o fisiologismo - EDITORIAL O GLOBO


O GLOBO - 05/02

Qualquer executivo sondado pelo governo deve exigir que a empresa fique longe do toma lá dá cá, postura que a própria Dilma deveria ter em outras estatais


A crise na Petrobras evoluiu, e a intenção do Planalto de ganhar tempo ao converter Graça Foster e os demais diretores da estatal em novos Guido Mantega — demitidos, mas preservados no cargo — teve vida curta.

Ao se reunir no Rio, na noite de terça, com a diretoria, depois de acertar em Brasília, com a presidente Dilma, este arranjo de fato insustentável, Graça não teve apoio dos diretores. Todos entregaram o cargo e ela fez o mesmo.

A escolha do novo presidente e equipe ganhou uma urgência ainda maior, diante do risco de a maior empresa brasileira ficar acéfala. Ao ser questionada formalmente pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a estatal informou que o Conselho de Administração se reunirá amanhã para eleger a nova diretoria. Missão difícil, a não ser que escalem interinos.

Não se trata mais, devido às circunstâncias, de escolher profissionais competentes, mas, tanto quanto isso, pessoas também dispostas a assumir uma empresa que se tornou prolongamento do Palácio do Planalto, do PT e legendas aliadas. E por isso mergulhou na maior crise de uma sexagenária história.

Portanto, é lógico presumir que qualquer executivo de bom senso, sondado para enfrentar o desafio, exigirá do governo a blindagem da estatal contra o fisiologismo, protegida de indicações políticas, do toma lá dá cá, a origem, enfim, de toda esta mastodôntica crise, acompanhada pelos meios econômicos e políticos no mundo inteiro.

O Planalto precisará atender esta condição. A própria Dilma, por sinal, terá de assumir nova postura em relação a todas as estatais, se deseja fazer uma governo minimamente razoável, à altura dos problemas difíceis que tem pela frente.

Chega a despertar curiosidade como funcionaria um governo em que ministérios e outras estatais estão loteados entre aliados políticos, enquanto a Petrobras se converte em um oásis de lisura e profissionalismo.

É fora de dúvida que a Petrobras com novos presidente e diretores precisa ser a oposta da que foi aparelhada a partir de 2003, na chegada de Lula ao Planalto, por segmentos lulistas do PT e respectivos braços sindicalistas.

A descoberta, nas investigações do mensalão, de que o dirigente petista Sílvio Pereira recebera um jipe de luxo de regalo de uma empreiteira contratada pela Petrobras, a GSK, no início do primeiro mandato de Lula, sinalizava algo nauseabundo. E de fato.

O escândalo do petrolão ainda terá desdobramentos políticos e judiciais importantes. Mas já ensinou ao país que a mistura de política com negócios é de alto risco, pode até quebrar empresas gigantescas. E é por isso que não se trata apenas de escolher nomes para recolocar a Petrobras nos trilhos. Trata-se de o Planalto e o PT renunciarem a práticas deletérias na administração do patrimônio público.

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