Quando se viaja, todos acham que é para a terra de Papai Noel. Pedem uma “lembrancinha”
WALCYR CARRASCO
13/01/2015 07h00
Em época de férias, salta aos olhos a hipocrisia das normas que regem a entrada e saída do país. Quero frisar: nada contra os agentes alfandegários, que exercem seu ofício. Soube, por ouvir falar, que há uma nova leva de agentes extremamente ética. Na última vez que voltei do exterior, constatei a seriedade do pessoal da alfândega no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. O problema é que a lei existente transforma tudo isso numa piada.
Só se pode fazer compras, lá fora, no valor máximo de US$ 500. A quem querem enganar? Mesmo os turistas mais modestos, de excursões, gastam mais. Alguém de menos posses economiza para viajar. Sabe que gastará mais de US$ 500 em compras. Na volta, é uma palhaçada. As pessoas cortam as etiquetas novas, para provarem que é de uso pessoal. Uma amiga rica, muito rica, chega ao cúmulo de riscar as solas dos sapatos com pregos para mostrar que é “usado”. Não estou falando de contrabandistas, e sim de gente que viaja, faz compras lá fora, mas para quem a cota de US$ 500 é risível. No exterior as grandes grifes custam muito mais barato, cerca de 50% daqui. Em liquidações botam 60% em cima disso. Quem não quer aproveitar? Alguns perfumes e duas camisetas já ultrapassam a cota, porém.
O pior é que, quando se viaja, todos os parentes, vizinhos e amigos acham que é para a Lapônia, na fábrica de Papai Noel. Pois pedem uma “lembrancinha”, um perfume, fazem encomendas. Querem que a gente volte cheio de presentes, como se fosse Natal. Pessoalmente, não aceito pedidos. Nem trago muitos presentes. Vou para conhecer os lugares. Encomendas, nem pensar. Uma vez perdi dois dias à procura de um tênis que depois não serviu. Horror: quem pede encomenda não costuma reembolsar. A cota de US$ 500 é útil pra dar desculpa:
– Não vai dar para trazer porque ultrapassa a cota...
Mas todo mundo sabe que é mentira de pão-duro. Na minha opinião, raramente alguém fica abaixo dela. Há casos. Tenho um amigo, vice-presidente de uma grande empresa, que viaja muito, sempre só com a malinha de mão. Juro. Lá cabem escovas de dentes, cremes variados, perfumes, e toda a roupa, segundo ele diz. Imagino o estado das cuecas numa viagem de 15 dias.
Outra falsidade: a proibição de laticínios e produtos de origem animal. Deve haver algum motivo técnico. Mas queijos franceses e salames espanhóis são vendidos no país, em mercadões e supermercados de luxo. Então por que eu não posso trazer? Há quem traga bebidas muito além da cota, também. A alfândega se modernizou, tem máquinas de raios X. Mas vai enquadrar todo mundo por duas garrafas de vinho a mais ou quatro camisetas, dois pares de meias e um jeans? (Aí já foram os 500.) Tanta rigidez pararia o aeroporto. Pior, nem mesmo o agente mais ético e dedicado daria conta de tanto trabalho.
Outra falsidade: só se pode sair do país com o equivalente a R$ 10 mil em moeda estrangeira. Claro, as pessoas têm cartão de crédito e fazem a festa. Mas já aconteceu comigo: meu cartão foi cortado no exterior. Quase tive de fugir do hotel sem pagar. Uma senhora que vá com os netinhos para a Disney pode confiar só no cartão? E se um deles ficar doente, num país estranho? Não precisa ter uma reserva? E tem: mesmo as velhinhas levam uns dólares a mais, sem declarar. Também não se pode entrar com eles. Há muitos anos fui para Las Vegas. Não sou jogador, mas, digamos, tive um bom desempenho nos caça-níqueis. Fiquei no Caesar Park, que é um cassino-shopping. Comia caviar todos os dias, me enchi de roupas. E voltei com mais do que saí. Era crime? Eu nem sabia na época. Ninguém viu, eu só estava feliz e, se soubesse, teria declarado alegremente. Aviso: se foi, já está prescrito. Faz mais de 20 anos!
Sei que neste ano a alfândega se tornará mais rígida, inclusive escolhendo os revistados a partir de reconhecimento facial, classe de voo escolhida etc. Estou tranquilo, nunca comprei nada que não fosse para mim mesmo ou presentes originais para os mais próximos. (Originalidade é um jeito de comprar baratinho e ninguém perceber.) Tão tranquilo que me atrevo a escrever tudo isto, porque, a partir de agora, posso ser o eleito de todas as alfândegas. Está na hora de rever, e bem revistos, os valores que os turistas podem gastar lá fora. Ou continuaremos sempre com uma situação hipócrita: senhoras e senhores de classe média fazendo contrabando – e os agentes alfandegários sem condição de pegar quem realmente interessa.
Só se pode fazer compras, lá fora, no valor máximo de US$ 500. A quem querem enganar? Mesmo os turistas mais modestos, de excursões, gastam mais. Alguém de menos posses economiza para viajar. Sabe que gastará mais de US$ 500 em compras. Na volta, é uma palhaçada. As pessoas cortam as etiquetas novas, para provarem que é de uso pessoal. Uma amiga rica, muito rica, chega ao cúmulo de riscar as solas dos sapatos com pregos para mostrar que é “usado”. Não estou falando de contrabandistas, e sim de gente que viaja, faz compras lá fora, mas para quem a cota de US$ 500 é risível. No exterior as grandes grifes custam muito mais barato, cerca de 50% daqui. Em liquidações botam 60% em cima disso. Quem não quer aproveitar? Alguns perfumes e duas camisetas já ultrapassam a cota, porém.
O pior é que, quando se viaja, todos os parentes, vizinhos e amigos acham que é para a Lapônia, na fábrica de Papai Noel. Pois pedem uma “lembrancinha”, um perfume, fazem encomendas. Querem que a gente volte cheio de presentes, como se fosse Natal. Pessoalmente, não aceito pedidos. Nem trago muitos presentes. Vou para conhecer os lugares. Encomendas, nem pensar. Uma vez perdi dois dias à procura de um tênis que depois não serviu. Horror: quem pede encomenda não costuma reembolsar. A cota de US$ 500 é útil pra dar desculpa:
– Não vai dar para trazer porque ultrapassa a cota...
Mas todo mundo sabe que é mentira de pão-duro. Na minha opinião, raramente alguém fica abaixo dela. Há casos. Tenho um amigo, vice-presidente de uma grande empresa, que viaja muito, sempre só com a malinha de mão. Juro. Lá cabem escovas de dentes, cremes variados, perfumes, e toda a roupa, segundo ele diz. Imagino o estado das cuecas numa viagem de 15 dias.
Outra falsidade: a proibição de laticínios e produtos de origem animal. Deve haver algum motivo técnico. Mas queijos franceses e salames espanhóis são vendidos no país, em mercadões e supermercados de luxo. Então por que eu não posso trazer? Há quem traga bebidas muito além da cota, também. A alfândega se modernizou, tem máquinas de raios X. Mas vai enquadrar todo mundo por duas garrafas de vinho a mais ou quatro camisetas, dois pares de meias e um jeans? (Aí já foram os 500.) Tanta rigidez pararia o aeroporto. Pior, nem mesmo o agente mais ético e dedicado daria conta de tanto trabalho.
Outra falsidade: só se pode sair do país com o equivalente a R$ 10 mil em moeda estrangeira. Claro, as pessoas têm cartão de crédito e fazem a festa. Mas já aconteceu comigo: meu cartão foi cortado no exterior. Quase tive de fugir do hotel sem pagar. Uma senhora que vá com os netinhos para a Disney pode confiar só no cartão? E se um deles ficar doente, num país estranho? Não precisa ter uma reserva? E tem: mesmo as velhinhas levam uns dólares a mais, sem declarar. Também não se pode entrar com eles. Há muitos anos fui para Las Vegas. Não sou jogador, mas, digamos, tive um bom desempenho nos caça-níqueis. Fiquei no Caesar Park, que é um cassino-shopping. Comia caviar todos os dias, me enchi de roupas. E voltei com mais do que saí. Era crime? Eu nem sabia na época. Ninguém viu, eu só estava feliz e, se soubesse, teria declarado alegremente. Aviso: se foi, já está prescrito. Faz mais de 20 anos!
Sei que neste ano a alfândega se tornará mais rígida, inclusive escolhendo os revistados a partir de reconhecimento facial, classe de voo escolhida etc. Estou tranquilo, nunca comprei nada que não fosse para mim mesmo ou presentes originais para os mais próximos. (Originalidade é um jeito de comprar baratinho e ninguém perceber.) Tão tranquilo que me atrevo a escrever tudo isto, porque, a partir de agora, posso ser o eleito de todas as alfândegas. Está na hora de rever, e bem revistos, os valores que os turistas podem gastar lá fora. Ou continuaremos sempre com uma situação hipócrita: senhoras e senhores de classe média fazendo contrabando – e os agentes alfandegários sem condição de pegar quem realmente interessa.
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