Por Percival Puggina.
- Percival Puggina
Artigo publicado em 03.02.2015
Quantas vezes, nos últimos anos, debati com ardorosos defensores de Hugo Chávez, sua ideologia e seus métodos! Sempre e sempre, meus interlocutores elogiavam o regime, exaltavam seu caráter democrático e popular, bem como o elevado sentido humanista e social das políticas e dos alinhamentos políticos do chavismo.
Qualquer pessoa que tenha alguns neurônios conscientes de sua autonomia, isto é, que sejam usados para o livre pensar, podia antever aonde aquilo iria levar. A exemplo de todos os maus empresários, maus gestores e maus políticos, Chávez fez o mesmo que a dupla Lula&Dilma e o mesmo que Eike Batista: gastou a rodo. É a miséria do dinheiro fácil, proporcionado às mãos cheias, seja pelo petróleo, seja pela arrecadação tributária, seja pelos financiamentos privilegiados. Até que o dinheiro escasseia ou acaba.
Com petróleo a US$ 110 o barril, Chávez foi um fanfarrão. Distribuiu dinheiro aos pobres. Armou-se até os dentes para um delirante conflito com os EUA. Adotou Cuba. Das próprias palavras alimentou sua vaidade. Saciado, arrotava poder. A história mostra muitos exemplos de tipos assim. Cada totalitarismo teve o seu Stalin, o seu Hitler, o seu Mussolini, o seu Fidel. Não foi diferente com o socialismo bolivariano, que outra coisa não é que o velho comunismo constrangido do próprio nome. Simón Bolívar, o libertador venezuelano – tão abusado pelo chavismo! – tinha algumas virtudes e muitos defeitos, mas ser comunista não era um deles.
Com a mão direita, o chavismo atendia urgências sociais segundo práticas paternalistas (como ocorre aqui, e isso não é sinônimo de enfrentar a pobreza). Com a esquerda, ia destruindo a economia. Estatizou tudo que lhe interessava. Tabelou preços. Desestimulou os investimentos privados. Botou o exército nos supermercados. O totalitarismo chegou aos poucos, com os ataques à liberdade de imprensa, com a prisão de opositores e com as tropas na rua para reprimir manifestações populares.
Os resultados valem por um curso de Economia e Ciência Política. Desabastecimento, agitação social, inflação a 63% (a mais alta do planeta). No mês de dezembro passado, apenas 24% dos venezuelanos aprovavam o governo.
A pior notícia para nós, brasileiros, é a de que a Venezuela chavista, tão louvada por meus interlocutores, como referi acima, tem, também, uma taxa de homicídios crescente, duas vezes maior do que a nossa. Dá para piorar, Brasil. O petróleo (alô Petrobras!) vale a metade do que já valeu. E nossos governantes são, em tudo e por tudo, admiradores do que acabei de descrever.
Zero Hora, 01/02/2015
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