domingo, 11 de janeiro de 2015

COISAS DESAGRADÁVEIS


Consultor_juridicoMagu


Mauricio Cardoso é, além de jornalista, editor do Conjur (site Consultor Jurídico). Publicou nesse site, em 9/1/2015, um belo texto, com um enfoque um pouco diferente do que temos lido a respeito do absurdo ato dos islamitas radicais na França. A matéria nos foi indicada por Carlos Brickmann, que também a publicou em seu site.

O título, muito bem escolhido, é
Dizer coisas desagradáveis a quem não quer ouví-las é um direito universal.

Neste mundo dominado pelo politicamente correto, está cada vez mais difícil fazer graça. Que o diga a brava equipe de jornalistas da revista francesa humorística Charlie Hebdo, que teve 12 de seus membros exterminados por extremistas islâmicos na manhã de quarta-feira (7/1), pelo simples fato de manifestar suas ideias e posições por meio de piadas.

Contra a intolerância dos radicais de qualquer espécie os argumentos são inúteis. Mas convém chamar à razão aqueles que tentam, se não justificar, pelo menos desculpar o atentado tresloucado contra a liberdade de manifestação do pensamento com a alegação de que os humoristas da Charlie, com sua irreverência iconoclasta, ofenderam as crenças religiosas dos muçulmanos. Bobagem.

Do ponto de vista subjetivo pode-se dizer que as charges que serviram de pretexto para desencadear a fúria dos fundamentalistas falam muito mais da insanidade de alguns seguidores do islamismo do que dos preceitos religiosos islâmicos. Uma charge do próprio Charlie Hebdo explica bem a situação. Na caricatura, aparece o profeta Maomé, aos prantos, dizendo: “É duro ser amado por idiotas…” Não há, pois, no caso, um conflito entre liberdade de expressão e liberdade religiosa.

Objetivamente, o que se pode dizer é que a liberdade de expressão se tornou um direito universal da humanidade justamente para se dizerem coisas que possam ser desagradáveis para alguém que não quer ouvi-las. Para dizer amém, não é preciso garantias. E nem democracia. Como dizia Millôr Fernandes, um dos mais brilhantes humoristas brasileiros, morto em 2012, “imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados”.

O massacre na redação da Charlie Hebdo e suas repercussões mostram duas maneiras de se ver a vida: de um lado estão os que acreditam na força das ideias, na observância das regras de convivência, na liberdade e no respeito ao ser humano. De outro estão os que acham que têm razão e que todos estão obrigados a ter a sua mesma razão. Não precisam ser muçulmanos, cristãos ou ateus. O tipo existe para todos os gostos e crenças. Quando eles prevalecem, o resultado é sempre parecido com o que aconteceu em Paris na manhã do dia 7 de janeiro de 2015.

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