segunda-feira, 8 de setembro de 2014

FIQUE BRAVA, GENTE BRASILEIRA!


Mauro PereiraMauroPereira


Como resultado natural da inexorável ação do tempo, a idade vai se acumulando e nos transforma em testemunhas privilegiadas de um conjunto de fatos e acontecimentos que constroem nossa história. Até aí, nada de extraordinário. No entanto, ainda que inadvertidamente, esse estoque fabuloso de informações captadas pelas nossas retinas ao longo de nossa existência e arquivadas no HD de capacidade ilimitada do nosso cérebro espetacular, nos dá a falsa sensação de que somos guardiões da sabedoria e, vencidos pela soberba, em determinados momentos chegamos até a imaginar que já vimos de tudo nessa fugaz experiência terrena.

Ledo engano. Em sua infinita benevolência a natureza nos concede o dom da longevidade, mas, como contrapartida, impõe o exercício da humildade. E nesse aspecto ela é pródiga em nos ensinar que por mais longeva que seja nossa caminhada a vida se renova e renasce todos os dias revelando eventos que julgávamos inconcebíveis. Jamais imaginei, por exemplo, que assistiria a uma das mais degradantes etapas de nossa história política.  Mas os quase doze anos da desastrada e corrupta administração petista provam que o malfeito de ontem se reinventa a cada amanhecer, cada vez mais bem feito.

Paralisado pela incompetência crônica que não perdoa nenhum dos quase quarenta ministérios e sufocado por um rosário interminável de denúncias de corrupção, o governo federal e sua base alugada dedicam mais tempo tentando minimizar os estragos da bandalheira institucionalizada do que na solução dos graves problemas conjunturais e estruturais que se acumulam e ameaçam perigosamente o futuro do País. Acuados,refugiam-se covardemente nas maravilhas de um país de araque que existe apenas no imaginário  deturpado dessa malta que, liderada por uma das maiores fraudes políticas que já se teve notícia, utiliza-se da mais indecente campanha publicitária para ludibriar os brasileiros.

Nesse país de faz de conta, a poupança interna se sustenta nos depósitos de brasileiros que ganham em média 400 reais por mês, foram construídas milhões de creches, todo brasileiro tem direito a um aeroporto pessoal, a universidade é a extensão do lar do estudante e a incorruptível Petrobras realizou investimentos de tamanha monta que garantiu a extinção definitiva do desemprego. No Brasil de verdade, entretanto, nos deparamos com um cotidiano assustador que convive com a falência da Saúde, o caos da Educação, a cruel indiferença com o Saneamento Básico e a absoluta falta de Segurança Pública, entre outros desastres.

Dissimulados, procuram desesperadamente esconder a dura realidade retratada no suplício de milhões de pessoas que têm como única fonte de renda, e de sobrevivência, uns trocados advindos de programas sociais direcionados mais para a preservação de algum ganho eleitoral do que resgatar a dignidade dos seus beneficiários.  As reportagens mostrando o desespero de municípios que imploram por hospitais e equipamentos médicos, agravadas pelos dados imorais publicados pelo IBGE dando conta de estados brasileiros onde praticamente inexiste a implantação de rede de tratamento de esgoto, dimensionam com exatidão o atraso e o subdesenvolvimento a que estamos atrelados.

A implementação de um estado de exceção legalizado pelo resultado das urnas, é uma realidade que nem em sonho ousei admitir. Mas o paternalismo rasteiro das bolsas-qualquer-coisa indica que pode! Nessa democracia indecente o lulopetismo entoa odes inspiradas saudando as bem-aventuranças de uma sociedade pluralista; entretanto, sucumbe à contradição quando recorre à prática do contorcionismo gramatical valendo-se da perfeição homônima do vocábulo “poder”. Às vezes, admite-o como verbo apenas para massagear o ego e conjugá-lo somente no presente da primeira pessoa do singular: “Eu posso!”. O tempo todo, porém, revoga o abstrato e o cultua como artigo definido combinado com substantivo concreto: “O poder!”. O som dessa combinação ordinária os fascina e dita o ritmo frenético que emprestam à marcha hegemônica que dá curso aos seus delírios ideológicos. Maquiavélicos irrecuperáveis, louvam a liberdade de expressão defendendo a volta da censura à imprensa.

Apesar de estupefato e temeroso com as consequências dessa nova concepção comportamental e de retrocesso democrático, reconheço, porém, que nada supera a oportunidade ímpar de ter assistido a evolução da mais infeliz das etapas da política brasileira. Jamais sequer cogitei da possibilidade de conviver com uma casta de políticos tão ineptos, irresponsáveis, oportunistas e corruptos e, concomitantemente, testemunhar o desempenho medíocre de um governo que, além de amasiar-se com a promiscuidade ideológica e flertar despudoradamente com a prostituição política, não se envergonha de recorrer ao flagelo da fome e ao suplício da miséria para amealhar algum dividendo eleitoral.

Nunca na história deste pais se contabilizou tantas denúncias de corrupção, gestão temerária e ação fraudulenta como as colecionadas pelos facínoras que têm comandado a nação brasileira. Embora poucos (ou quase nenhum) foram presos, em tempo algum tantas autoridades foram levadas às barras da justiça.  Mais dia menos dia a casa cai e eles terão de prestar conta dos seus atos.

Infelizmente, o Brasil foi transformado na pátria dos vigaristas, no reduto de vendilhões e no paraíso de velhos (e novos) comunistas que abominam o capitalismo e detestam a burguesia, mas não abrem mão da felicidade, nem da facilidade, que ambos propiciam.

Atônita ante a nova configuração social que se vislumbra, com a confiança um tanto quanto abalada no que se refere a ação do Judiciário e aturdida diante desse desenrolar interminável de falcatruas, a maioria da sociedade parece que abriu mão de ser uma metamorfose ambulante para ter uma opinião formada sobre nada. Amorfa, tem se mostrado incapaz de reagir às provocações debochadas que lhe são disparadas diariamente contribuindo, dessa forma, para que seus agressores a considere definitivamente subjugada ou, pior, cúmplice de suas patifarias.

Ou nos levantemos contra essa era da mediocridade e estanquemos o mal que essa malta vem fazendo ao nosso País, ou não nos restará sequer o consolo de sonharmos com um Brasil decente, soberano, desenvolvido e democrático.

Em repúdio a mais um escândalo de grandes proporções envolvendo as maiores autoridades da República, o Brasil que presta haverá de fazer retumbar pela vastidão das urnas eletrônicas o grito dos indignados. Com certeza ele chegará aos ouvidos moucos daqueles que têm ultrajado a nossa pátria e coberto de vergonha toda uma nação e os fará perceber no horizonte da esperança o raiar de um novo tempo. O da decência.  Que venha esse tempo!

Há uns quatro ou cinco anos eu escrevi um texto afirmando que “os desatinos que vêm assolando  nosso país há praticamente nove anos, infelizmente demandarão o esforço de gerações para recolocá-lo nos trilhos do desenvolvimento. No entanto, apesar de todos os percalços, haveremos de ver triunfar a lisura e a retidão.  Ainda que tardia, despida da toga servil maculada pela gratidão irrestrita, a história se incumbirá de fazer justiça a esses vendilhões da pátria. É só uma questão de tempo”. Hoje, esse tempo já não me parece tão distante como me parecia em 2010.

 Fique brava, gente brasileira!

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