domingo, 11 de maio de 2014

OBRA-PRIMA DO DIA (PINTURA) Paul Gauguin: o artista que quis pintar a inocência

Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa - 
8.5.2014
 | 12h00m

Paul Gauguin nasceu em 7 de junho de 1848, filho do jornalista Clovis Gauguin e de Aline-Maria Chazal, de família parte peruana, parte francesa, filha de Flora Tristán. Seus pais resolveram sair da França e ir morar em Lima, mas Clovis morreu antes de chegarem ao Peru. Paul passou parte de sua infância em Lima; quando estava com sete anos sua mãe resolveu voltar para a França.
Foram morar em Orléans, com seu avô paterno. Desde muito jovem demonstrou interesse pela pintura e dedicou-se a estudar desenho. Aos 17 anos, na idade de se apresentar para o serviço militar, ele resolveu se inscrever na Marinha Mercante, como assistente de piloto. Três anos depois, entrou para a Marinha, arma à qual servirá por dois anos.
Em 1871 volta para Paris onde vai trabalhar como corretor da Bolsa. Casou-se, em 1873, com uma dinamarquesa, Mette Sophie Gad. O casal teve quatro filhos.
Com um bom emprego, bem de finanças e com vida pessoal tranquila, Paul resolveu se dedicar à sua maior paixão: as artes. Passou a ser um colecionador, frequentava galerias e leilões, convivia com os Impressionistas e dedica-se a desenhar e pintar, a criar em cerâmica e metal. (Abaixo: Les Alyscamps, 1888, Museu d'Orsay, Paris)

                                                                              

Em 1884, a França numa crise financeira, Gauguin resolveu ir para Copenhagen com sua família, onde continuaria a exercer seu ofício de corretor da Bolsa. Mas a paixão pela pintura e o ambiente que lhe parecia hostil aos seus desejos, fazem com que Gauguin regresse a Paris e deixe a família na Dinamarca.

Aos poucos vai se afastando do Impressionismo. Em 1887 faz sua primeira viagem à Pont-Aven onde entra em contacto com Émile Bernard, cujo estilo fez forte impressão em seu desenho. As cores fortes e o desenho com o uso da linha que divide as formas, como nos vitrais, passam a ser marca de sua forma de desenhar e pintar.

O artista Paul Gauguin e sua vida cheia de altos e baixos fazem de sua personalidade uma lenda quase tão rica quanto a obra que deixou. Foi amigo íntimo dos irmãos van Gogh: Theo passou a ser seu marchand e ele vai para Arles viver ao lado de Vincent para com ele compartilhar seu estilo. Não foi uma convivência pacífica...



No final dos anos 1890 Gauguin organiza uma exposição para fazer fundos para a viagem que fazia parte de seu sonho: o Tahiti. Mas Papeete o decepciona pois não é a terra virginal que imaginou: a influência ocidental já era muito grande na ilha. O que não impede que tenha uma prodigiosa atividade artística no Tahiti. (Acima: Ia Orana Maria[Salve Rainha], 1891, MoMA, NYC e abaixo Nave Nave Moa [Delightful Drowsiness] , 1894, Hermitage, São Petersburgo)


Volta para a França e tem outra decepção, suas obras não agradam e não vendem bem. Em 1895 ele decide abandonar a França de vez. Passa mais alguns anos no Tahiti, chega a se casar com uma nativa, Téhura, que foi sua modelo em muitas telas. Mas sofre com a notícia da morte de sua filha favorita, tem muitos problemas de saúde e tenta o suicídio. (Abaixo Maternité II, 1899, óleo em pano de saco, acervo particular Paul G. Allen)


Em 1901, ele resolve deixar o Tahiti e apesar de Téhura não querer acompanhá-lo, decide ir viver nas Ilhas Marquesas. Instala-se em Hiva Oa, onde pensa ter encontrado a civilização primitiva ainda livre do Ocidente, e que tanto procurara.
Seus últimos quadros foram pintados ali. Morre em 9 de maio de 1903.
Sua vida, que já foi contada em prosa e verso, a de um homem que não desiste de buscar o paraíso perdido, impressiona pela força da Fé, pela paixão por sua arte, pela marca que deixou nas Artes Plásticas e por sua personalidade riquíssima. Livros que recomendo: The Moon and Sixpence (Um Gosto e Seis Vinténs), de Somerset Maughan, baseado na vida de Gauguin, e El Paradiso En La Otra Esquina, de Mario Vargas Llosa, que intercala as biografias de Gauguin e da avó que não conheceu, Flora Tristán, célebre feminista peruana.

No alto, à esquerda, um autorretrato feito quando ele estava com 46 anos, acervo do Museu d' Orsay, Paris


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