quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Cartas de Nova Iorque: Lições Nova-Iorquinas para o Segundo Turno


Em Nova Iorque, acima de tudo, se protege a democracia. A cidade se preocupa com liberdade de expressão e a garantia de um espaço para se discordar, discutir, protestar
Uma das coisas mais fáceis de se encontrar andando pelas ruas de Nova Iorque são protestos. Aqui, na maioria das vezes, manifestantes precisam de uma licença da polícia para se aglomerar nas ruas, o que faz dos atos um pouco organizados demais, mas muitas vezes, a área demarcada para as pessoas se posicionarem politicamente faz o processo todo um pouco mais seguro.
Em Nova Iorque, acima de tudo, se protege a democracia. Não realmente no sentido de se escolher os governantes: nova-iorquinos não votam em massa como eu já contei antes e muita gente que não é daqui acaba se desligando da política local. Mas a cidade se preocupa com liberdade de expressão e a garantia de um espaço para se discordar, discutir, protestar suas opiniões em paz.
A primeira emenda à constituição dos Estados Unidos fala exatamente de como o congresso nunca pode obstruir o trabalho da imprensa nem a liberdade das pessoas de se expressarem, se organizarem, ou exercitarem sua religião. Nova Iorque que recebe pessoas de países onde esses direitos não são preservados e que se orgulha como cidade que acolhe a todos sem distinção, leva isso ainda mais a sério.
Diante do clima polarizado no Brasil e nas redes sociais durante esse segundo turno de eleições presidenciais, não pude deixar de me lembrar de situações aqui em Nova Iorque, onde manifestantes de lados opostos de uma mesma questão se encontraram para se expressar. Uma delas, que ocorre quase todo ano, foi em frente às Nações Unidas quando palestinos e israelenses que protestavam sobre a crise na Faixa de Gaza se esgoelavam entre duas esquinas da rua 42 com a Segunda Avenida.
A rua entre os dois extremos de um conflito histórico, que ultrapassa partidos políticos, era barulhenta, mas ainda se apresentava pacífica. Manifestantes dos dois lados eram respeitosos uns com os outros e muitos acabaram pegando o mesmo metrô na hora de ir embora para casa. Uma colega da Argélia disse: “no Oriente Médio, eles estariam se matando, mas aqui, eles conversam”.
Além das greves de fome tibetanas que também acontecem perto da ONU, para que um dia a independência do país aconteça, há protestos constantes contra a violência policial, o fechamento da biblioteca da cidade, ou a contaminação de trabalhadores no World Trade Center.
As manifestações aqui são diversas e quase sempre, alguém que discorda aparece. Entretando, o ato de discordar é considerado normal. Na Marcha do Clima que aconteceu este mês por aqui, havia pessoas que reclamavam dos republicanos e outras vestindo a camisa do partido explicando que também poderia ser ambientalistas. Os opostos se encontraram marchando contra o aquecimento global.
Mesmo sendo uma sociedade cheia de taboos onde pessoas não curtem muito falar de política e futebol como nós latinos, os nova-iorquinos apreciam poder discordar numa boa. O diálogo, reconhecimento daqueles que divergem, e a simples proteção do direito de se manifestar faz dessa cidade um lugar democrático, onde muita gente pode ser ouvida e respeitada.  
Liberdade. Manifestantes ocupam a entrada da ONU, em Nova York  (Foto: Andrew Burton / AFP)Liberdade. Manifestantes ocupam a entrada da ONU, em Nova York (Imagem: Andrew Burton / AFP)

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