Pesquisa recente feita pelo Ministério da Educação aponta que uma pequena elite educada em Cambridge e Oxford domina os principais cargos ingleses.
O taxista puxou assunto perguntando se eu preferia o silêncio ou uma conversa. Optei pela segunda opção e ele, satisfeito, explicou que achava viagens superiores a 10 minutos períodos muito longos de silêncio entre duas pessoas. Disse ainda para eu não me preocupar pois não começaria a pontificar apaixonadamente sobre algo controverso.
Falamos de como era ser estrangeiro na Inglaterra. Mais experiências positivas do que negativas de ambos os lados. As diferenças sendo que eu adotei – ou fui adotada – por esse país temporariamente e ele, não. Alem do que, eu pude continuar a trabalhar na minha área e ele, não.
Aqui há 10 anos, ele se formou economista no seu país de origem, a Namíbia. Era funcionário público mas sentia que “a vida não dava”.
Na Inglaterra só conseguiu trabalho de motorista. Não é o ideal, disse, mas aqui, mesmo quem não tem formação consegue viver com dignidade; é possível ser mecânico, pintor, taxista e ainda assim ter sua casa própria, ter um bom tratamento de saúde, levar os filhos ao cinema.
Comentamos sobre a sociedade britânica ser elitista e ele falou de uma pesquisa recente feita pelo Ministério da Educação que apontava que uma pequena elite educada em Cambridge e Oxford domina os principais cargos, e que essa falta de diversidade significa que o governo não representa o público que serve.
Depois, ao ler sobre o estudo, descobri que mais da metade dos servidores civis foi educada em Oxford ou Cambridge, assim como 75% dos juízes, 50% dos diplomatas, 59% dos ministros e 38% da Câmara dos Lordes. Em contrapartida, menos de 1% da população é graduado de “Oxbridge” e 62% não frequentaram a universidade.
De forma não explícita esses números fascinantes indicam o oposto do que o taxista disse sobre qualquer um ter dignidade na Inglaterra. O fato é que há uma crescente sensação de luta de classes. Os distúrbios de agosto de 2011, quando uma série de manifestações tomou conta do país, expuseram a situação mais claramente, mas a tensão persiste mesmo que mais disfarçada.
Um amigo de uma família abastada contou de piadinhas que fazem graça do seu sotaque. Recentemente ele conversava numa sala de cinema antes da exibição e assim que as luzes se apagaram alguém gritou na sua direção: “cala a boca, Downton!”, uma referência à série Downton Abbey, que mostra a vida de uma família aristocrática e os empregados do seu palacete rural.
Do outro lado, um amigo professor, cuja família ainda vive em uma área mais pobre, diz que existem programas para todo tipo de minorias, mas que os brancos pobres foram deixados de lado e por isso votam para partidos direitistas anti-imigração.
As eleições do ano que vem dirão muito sobre os caminhos que os britânicos querem tomar e com certeza renderão muito assunto para longas e interessantes viagens de taxi.
Táxis tipicamente ingleses na Trafalgar Square (Imagem: Site Flash it)
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