Comparar o debate eleitoral a programas de auditório é uma ofensa à TV popular
RUTH DE AQUINO
17/10/2014 20h08
Não vale a pena ver de novo. Estou na contagem regressiva para o voto na urna. Se pudesse, não assistiria mais a debates porque, até agora, o futuro do Brasil não entrou em pauta. Comparar os últimos confrontos entre Dilma Rousseff e Aécio Neves a programas de auditório ou a reality shows é uma ofensa à televisão popular. Para quem curte linchamentos e golpes abaixo da cintura, talvez os debates dos “presidenciáveis” sejam uma boa diversão.
Uma causa do baixo nível da campanha é o medo que candidatos têm de ser entrevistados ao vivo na televisão. Campanhas em outros países também são apelativas, mas há muito mais entrevistas de candidatos na TV. São longas entrevistas, sem anúncios eleitorais, feitas por jornalistas e âncoras preparados para desafiar cada afirmação falsa ou exagerada e, assim, orientar melhor o eleitor.
Essa aposta na superficialidade, na imagem, na militância virtual e no bate-boca explica que Dilma não tenha apresentado, nem no primeiro turno nem até uma semana antes da decisão no segundo turno, um plano de governo. Não me lembro, nos países civilizados, de candidato nenhum à Presidência sem um plano de governo por escrito.
Mas não se pode exigir tanto do Brasil, não é? Um país que, após 12 anos governado por uma coligação entre o PT e oligarcas da direita, tem 13 milhões de analfabetos adultos e 35 milhões de analfabetos funcionais. Lula extinguiu a Secretaria de Erradicação do Analfabetismo. Criou o Ministério da Pesca. Os 39 ministérios e secretarias precisariam de um corte radical.
Treze milhões de brasileiros não sabem desenhar um “o” nem com a ajuda de um copo. Não sabem ler o que está escrito na bandeira do Brasil, Ordem e Progresso. Trinta e cinco milhões de brasileiros sabem, mas não entendem o significado. Mesmo diante do desastre da educação, nenhum dos candidatos explicou até agora como o Brasil erradicará o analfabetismo. Em quantos anos – 20, 30 ou 40 – o Brasil se equiparará à Coreia e será um campeão na educação?
Nenhum dos dois explicou em quantos anos os pobres não precisarão mais de Bolsa Família para não morrer de fome – como se pudéssemos nos conformar em transformar famílias de miseráveis em dependentes, enquanto a propina bilionária alimenta tantos corruptos parasitas. Em quantos anos o governo federal deixará de mentir, ao chamar de “classe média” quem ganha entre R$ 291 e R$ 1.019 por mês? Deveria ser proibido chamar de classe média baixa quem ganha menos de dois salários mínimos por mês.
Como eleitora, cito uma série de incômodos que os últimos debates me provocaram. O primeiro é a falta de propostas concretas, perdidas na troca de ofensas pessoais. O segundo é a obsessão dos dois candidatos por Minas Gerais. Que eu saiba, o Estado não é modelo de gestão nem de indigestão. Basta de discutir Minas, porque nem os mineiros aguentam mais. Comecei a enjoar de pão de queijo.
Quero saber se faltará água; se a inflação continuará a subir; se o crescimento (?) ficará abaixo de 1% ao ano; se pacientes, de bebês a idosos, continuarão a morrer em fila de cirurgia, diante dos hospitais; se as obras continuarão a ser superfaturadas; se algum dia saberemos para onde vão nossos impostos; se o Estado deixará de praticar a violência oficial contra a mulher – sem creches em tempo integral, sem igualdade em salários e oportunidades. Muitas, condenadas à gravidez precoce ou à prostituição, especialmente no Norte e no Nordeste.
Outro incômodo é a deselegância. Já seria uma boa iniciativa que os dois candidatos se tratassem de “senhor” e “senhora”, em vez de “você”. As caras e bocas de Dilma e Aécio também são bregas. Um pouco mais de cerimônia e sobriedade ajudaria a tornar o confronto mais agradável.
Se Dilma quer provocar e perguntar se Aécio dirigia o carro bêbado, por que não tem a hombridade de falar claramente? Tem vergonha de agir como Collor? Se Aécio bebeu uma gota ou uma garrafa antes de dirigir, por que não diz claramente que não soprou no bafômetro por causa disso e pede desculpas por esse lapso, em vez de falar na carteira vencida? Tem vergonha?
Ver Dilma se colocar como paladina da ética e dizer que seu papel, como presidente, é “investigar e punir”, como se as investigações da Polícia Federal e do Ministério Público não ocorressem à revelia dela e do PT; como se, a cada escândalo revelado, Dilma não culpasse a imprensa; como se assessores, ministros e diretores de estatais, condenados por envolvimento em maracutaias, não fossem elogiados por Lula e por ela, aplaudidos e fotografados com punhos erguidos. Ouvir de Dilma que o governo do PT “não mexe com a coisa pública em benefício de quem quer que seja”, no meio desse escândalo abissal da Petrobras... aí, sério, é hora de trocar de canal.
Uma causa do baixo nível da campanha é o medo que candidatos têm de ser entrevistados ao vivo na televisão. Campanhas em outros países também são apelativas, mas há muito mais entrevistas de candidatos na TV. São longas entrevistas, sem anúncios eleitorais, feitas por jornalistas e âncoras preparados para desafiar cada afirmação falsa ou exagerada e, assim, orientar melhor o eleitor.
Essa aposta na superficialidade, na imagem, na militância virtual e no bate-boca explica que Dilma não tenha apresentado, nem no primeiro turno nem até uma semana antes da decisão no segundo turno, um plano de governo. Não me lembro, nos países civilizados, de candidato nenhum à Presidência sem um plano de governo por escrito.
Mas não se pode exigir tanto do Brasil, não é? Um país que, após 12 anos governado por uma coligação entre o PT e oligarcas da direita, tem 13 milhões de analfabetos adultos e 35 milhões de analfabetos funcionais. Lula extinguiu a Secretaria de Erradicação do Analfabetismo. Criou o Ministério da Pesca. Os 39 ministérios e secretarias precisariam de um corte radical.
Treze milhões de brasileiros não sabem desenhar um “o” nem com a ajuda de um copo. Não sabem ler o que está escrito na bandeira do Brasil, Ordem e Progresso. Trinta e cinco milhões de brasileiros sabem, mas não entendem o significado. Mesmo diante do desastre da educação, nenhum dos candidatos explicou até agora como o Brasil erradicará o analfabetismo. Em quantos anos – 20, 30 ou 40 – o Brasil se equiparará à Coreia e será um campeão na educação?
Nenhum dos dois explicou em quantos anos os pobres não precisarão mais de Bolsa Família para não morrer de fome – como se pudéssemos nos conformar em transformar famílias de miseráveis em dependentes, enquanto a propina bilionária alimenta tantos corruptos parasitas. Em quantos anos o governo federal deixará de mentir, ao chamar de “classe média” quem ganha entre R$ 291 e R$ 1.019 por mês? Deveria ser proibido chamar de classe média baixa quem ganha menos de dois salários mínimos por mês.
Como eleitora, cito uma série de incômodos que os últimos debates me provocaram. O primeiro é a falta de propostas concretas, perdidas na troca de ofensas pessoais. O segundo é a obsessão dos dois candidatos por Minas Gerais. Que eu saiba, o Estado não é modelo de gestão nem de indigestão. Basta de discutir Minas, porque nem os mineiros aguentam mais. Comecei a enjoar de pão de queijo.
Quero saber se faltará água; se a inflação continuará a subir; se o crescimento (?) ficará abaixo de 1% ao ano; se pacientes, de bebês a idosos, continuarão a morrer em fila de cirurgia, diante dos hospitais; se as obras continuarão a ser superfaturadas; se algum dia saberemos para onde vão nossos impostos; se o Estado deixará de praticar a violência oficial contra a mulher – sem creches em tempo integral, sem igualdade em salários e oportunidades. Muitas, condenadas à gravidez precoce ou à prostituição, especialmente no Norte e no Nordeste.
Outro incômodo é a deselegância. Já seria uma boa iniciativa que os dois candidatos se tratassem de “senhor” e “senhora”, em vez de “você”. As caras e bocas de Dilma e Aécio também são bregas. Um pouco mais de cerimônia e sobriedade ajudaria a tornar o confronto mais agradável.
Se Dilma quer provocar e perguntar se Aécio dirigia o carro bêbado, por que não tem a hombridade de falar claramente? Tem vergonha de agir como Collor? Se Aécio bebeu uma gota ou uma garrafa antes de dirigir, por que não diz claramente que não soprou no bafômetro por causa disso e pede desculpas por esse lapso, em vez de falar na carteira vencida? Tem vergonha?
Ver Dilma se colocar como paladina da ética e dizer que seu papel, como presidente, é “investigar e punir”, como se as investigações da Polícia Federal e do Ministério Público não ocorressem à revelia dela e do PT; como se, a cada escândalo revelado, Dilma não culpasse a imprensa; como se assessores, ministros e diretores de estatais, condenados por envolvimento em maracutaias, não fossem elogiados por Lula e por ela, aplaudidos e fotografados com punhos erguidos. Ouvir de Dilma que o governo do PT “não mexe com a coisa pública em benefício de quem quer que seja”, no meio desse escândalo abissal da Petrobras... aí, sério, é hora de trocar de canal.
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