Mara Bergamaschi
A cada vez que paro para ver a propaganda eleitoral dos presidenciáveis na TV, sobretudo o programa longuíssimo do PT, tenho a mesma sensação: que coisa lamentável!
É um festival absurdo de manipulação e incoerência, ao gosto dos diferentes públicos e ao sabor do momento, que seria trágico se não fosse cômico!
Enfim, quanta perda de tempo e oportunidade, sobretudo quando se tem em mente que há um ano a sociedade foi às ruas gritar pelo avanço social e ético do país.
Debate, diálogo real com o eleitor? Fala sério! Infelizmente nada mudou: o horário político continua dando motivos para ser desprezado pelo cidadão comum, que desliga a TV ou muda para os canais fechados por não suportar o embromation.
O único que vem sendo tratado pela campanha dos candidatos sem as mensagens ilusionistas construídas pelo marketing e pela publicidade é o tal do mercado. Com o poder econômico não tem brincadeira nem promessa; é preto no branco.
A fim de mostrar aos empresários que eles nem precisariam esperar o resultado das urnas para ver mudanças na pífia economia, Dilma Rousseff (PT) simplesmente rifou Guido Mantega, o número 1 da Esplanada.
Antes, Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (PSB) também já tinham colocado respeitosamente suas cartas na mesa: ele veio de Armínio Fraga e ela com a autonomia do Banco Central.
O cinismo da política chegou a extremos na propaganda de Dilma. Ouvi da presidente a maior pérola dita até aqui nesta campanha, referindo-se indiretamente ao escândalo da Petrobras: “devemos é nos sentir recompensados” com a proliferação de denúncias de corrupção.
É insultar a inteligência do eleitor tentar fazê-lo acreditar que a corrupção está aparecendo mais agora só porque nos governos petistas a PF supostamente trabalha com liberdade.
Ora, os delegados federais são concursados, têm autonomia e atuam, desde 1988, em parceria com o Ministério Público. O que foi o Collorgate senão o primeiro grande resultado dessa dobradinha? E quem não se lembra das centenas de denúncias, boa parte delas feita por petistas, publicadas diariamente durante a era FHC?
Bem, o trabalho investigativo da imprensa deixou de ser referência para o PT depois que a sigla virou governo e alvo de escândalos – sobretudo após o mensalão.
Agora um ex-diretor da Petrobras, mantido no cargo por oito anos, confessa ter comandado um megapropinoduto para irrigar a base aliada sem que, durante esse longo período, ninguém do núcleo estratégico do governo desconfiasse de nada.
Nem mesmo da movimentação financeira atípica do funcionário em bancos nacionais: segundo o Estadão, cerca de R$ 90 milhões passaram por contas de Paulo Roberto Costa e seus familiares.
A presidente, que outro dia mesmo afirmou que “a diretoria da Petrobras representa a União”, trata agora de separar a estatal do Executivo. Para completar, diz que seu “telhado está cobertinho” porque afinal “deixou” a PF investigar tudo. Foi essa a satisfação que até aqui mereceu o eleitor.
Mara Bergamaschi é jornalista, escritora e mãe
Nenhum comentário:
Postar um comentário