sexta-feira, 15 de agosto de 2014

OBRA-PRIMA DO DIA (TAPETES) Jean Lurçat e suas magníficas tapeçarias


Jean Lurçat nasceu em Bruyères (Vosges). Seu pai esperava que ele estudasse medicina. Jean bem que tentou seguir o caminho traçado pelo pai, mas em 1912 desiste definitivamente e parte para Paris. Lá ele frequenta as aulas da Escola de Belas Artes até se decidir pela Academia Colarossi, na célebre rua de la Grande-Chumière, onde muitos artistas mantinham seus ateliers. Matricula-se nas aulas do gravurista Bernard Naudin.
Em 1913 fundou, junto com alguns outros artistas, Rilke e Elie Faure entre eles, a revista "Les feuilles de mai".
Em 1917 expõe suas primeiras litogravuras na galeria Tanner, em Zurich. E, nesse mesmo ano, pede à sua mãe que teça duas tapeçarias, seguindo seus desenhos:Filles Vertes e Soirées en Grenade.
Viaja muito até que, em 1920, se fixa em Paris e vai viver em casa de Marthe Hennebert, que havia sido a musa inspiradora de Rainer Maria Rilke. Foi Martha quem teceu, em petit-point, as tapeçarias Pêcheur e Piscine.
Amplia cada vez mais seu leque de amigos e influências. Mas não para de viajar, paixão que nunca largou e que serviu de escola e inspiração para esse artista de múltiplos talentos.
Em 1922 expõe pela primeira vez em Paris, alguns guaches, óleos e sua quinta tapeçaria, Le cirque. Logo em seguida parte em nova viagem, dessa vez uma longa ausência, de 1923 a 1927. Em 1928 vai aos EUA, onde expõe seus trabalhos, e depois a Moscou.
Continua pintor, gravurista e viajante. Faz belos cartões destinados a se transformar em tapeçarias. Na década de 50 se interessa pela cerâmica e a partir daí faz potes, pratos, travessas, azulejos e monta seu maior trabalho em cerâmica, que é a fachada da Maison de la Radio de Strasbourg.
Sua saúde é frágil, o que não o impede de trabalhar sem parar. Em janeiro de 1966, morre subitamente em Saint Paul de Vence, na Provence.


A vida de Jean Lurçat é rica e interessante, e muito inspiradora. Mas é das tapeçarias que quero falar e escolhi três:
Liberté                                                                                         
                
Sobre um fundo ocre se destacam, no centro, dois astros que passam, um diante do outro, tal qual um eclipse. Nos quatro cantos da tapeçaria podemos ler versos do poema Liberté de Paul Eluard; as últimas palavras do poema estão bordadas em cima do sol:

Pour te connaître/ Pour te nommer/ Liberté 

Obra tecida clandestinamente em 1943, ela ultrapassa sua função meramente decorativa. O sol com seus raios em chamas avermelhadas é o gerador da vida e da esperança, em contraste com o astro sombrio colocado atrás do sol. Nessa figura escura podemos divisar crânios, imagens da destruição e da morte. O galo que figura acima do sol tem vários significados, além de representar a França, ele ali evoca a vitoria, um símbolo triunfal da resistência contra o inimigo.

Champagne
                                                             
 A composição dessa tapeçaria é toda em diagonal, pois o artista quis exprimir o vai e vem, o impulso, a alegria de viver. À esquerda um tonel de champagne, em madeira, encerrado em uma vinha com raizes poderosas; iluminada por raios azuis, dela escapam jatos de bolhas brancas, azuis e vermelhas, às quais se misturam borboletas multicoloridas. Pousada no solo, uma cornamusa sugere que a música contribuiu para a festa.
Derramada na terra, a bebida a fertiliza e dá vida à uma plantação luxuriante de íris em tons de azul.
No chão, à direita, um crânio voltado para baixo, que mal se distingue, tem as órbitas tomadas por raízes, modo escolhido por Lurçat para falar de todo o vigor da vida, confirmando sua esperança no homem.
Foi numa viagem ao Brasil que ele se encantou com as borboletas "o brilho de suas cores, as linhas soltas, surpreendentes, a explosão de movimentos".

Conquista do Espaço

                                                                                                             
Tapeçaria com mais de 10 m de comprimento, sua leitura pode sugerir, numa primera vista, o caos. Mas é um caos organizado em ritmos, espirais, o infinito. Essa visão plástica, artística e simbólica é a expressão de um mundo em constante movimento, em oposição a nosso universo terrestre mais estático. 

Lurçat compreendeu e tornou plasticamente visível a interpenetração dos diferentes universos. E isso fez dele um homem à frente de seu tempo.



Liberté
1943
2,83 x 3,64 m
Atelier Picaud, Aubusson
Doação de Simone Lurçat, 1988
Champagne
1959
4,40 x 7,02 m
Atelier Tabard, Aubusson
Sixième tapisserie du Chant du monde (1957-1966)
Acervo Simone Lurçat, 1967
Conquista do Espaço
1960
440 x 1035 cm
Atelier Tabard, Aubusson
Huitième tapisserie du Chant du monde (1957-1966)
Acervo Simone Lurçat, 1967

Texto Musées d ' Angers - adaptação e tradução mhrrs

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