terça-feira, 19 de agosto de 2014

Cartas de Berlim: Os partidos alemães, por Albert Steinberger

Blog do Noblat

A primeira vez que vi Marina Silva e Eduardo Campos discutindo sobre um possível coligação, lembrei-me da política alemã, onde o debate gira mais em torno de propostas do que de cargos.
Aqui nas últimas eleições, nenhum partido ou tendência política conseguiu a maioria. Mesmo a grande ganhadora da eleição, Angela Merkel, teve que se sentar na mesa para tentar formar um bloco e conseguir a maioria no parlamento. Na Alemanha parlamentarista, quem escolhe o chefe de governo são os deputados.
O interessante é que as discussões acontecem basicamente em cima de programas políticos. Uma semana após discussões ficou claro para os democrata-cristãos alemães (partido de Merkel) que a única coligação possível seria com seus arqui-inimigos os sociais democratas da SPD.
A chamada grande coalizão foi, então, formada e o governo atual da conservadora Angela Merkel tem tomado medidas que tem aumentado os gastos do estado, como mudanças nas regras das aposentadorias e a criação de um salário mínimo, que até então não existia na Alemanha.
Estes pontos foram negociados após as eleições por semanas a fio com os sociais-democratas, que tinham um programa político muito focado em problemas sociais. Os dois partidos que se sentam em lados opostos do espectro político tiveram que chegar a um consenso em questões polêmicas.
Para alcançar esta maturidade de discussão, os dois partidos precisaram de muito tempo e muito alternância no poder. O partido social-democrata alemão, por exemplo, foi criado há 150 anos.
Não que a política aqui seja um paraíso. Existem problemas, como o tempo excessivo de um chanceler no poder (Merkel já ocupa o cargo há nove anos) e um desinteresse crescente dos jovens.
No entanto, na Alemanha não existem partidos pequenos que simplesmente buscam cargos e poder. Uma cláusula de barreira impede legendas com menos de cinco por cento de terem assentos no parlamento. Além disso, algumas coligações que teriam condição de ir para o governo, preferem se sentar na oposição e desempenham um papel importante.
Acredito, sinceramente, que na política partido tem que ter um programa claro, que una os seus filiados ou simpatizantes. Se não, não é partido, é quadrilha.

Angela Merkel - CDU (Christlich-Demokratische Union) 

Albert Steinberger é repórter freelancer, ciclista e curioso. Formado em Jornalismo pela UnB, fez um mestrado em Jornalismo de Televisão no Golsmiths College, University of London. Atualmente, mora em Berlim onde trabalha como repórter multimídia para jornais, sites e TVs. Escreve qui todas as terças-feiras

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