terça-feira, 29 de julho de 2014

Cartas de Londres: A cidade verde


Beatriz Portugal 
O momento não foi nada grandioso nem minimamente importante, mas me fez imaginar um pouco da surpresa de Yuri Gagarin, que há mais de 50 anos exclamou "A Terra é azul!". Na minha frente, estava um mapa alternativo de Londres, que ao mostrar o quanto da cidade é ocupada por espaços abertos, edifícios e ruas me surpreendeu ao deixar claro que Londres é verde.
Um grande centro urbano, com mais de 8 milhões de habitantes e 300 línguas faladas nas ruas, a cidade conta com 240 museus, quatro patrimônios mundiais da UNESCO e apesar de os parques londrinos com seus gramados quase impecáveis serem famosos ao redor do mundo, pouca gente imagina que o verde de Londres vai muito além dos cinco grandes parques no centro da cidade.
Descobri que ao todo são 3 mil parques, 142 reservas ambientais locais além de duas reservas nacionais, 17 fazendas urbanas, 3,8 milhões de jardins privados e mais de 100 jardins comunitários.
Além disso, 30 mil pessoas em Londres alugam lotes para cultivar legumes e frutas, e 14% das residências cultivam hortas no jardim.
A capital inglesa é, entre as cidades de seu porte, uma das mais verdes do planeta, com cerca de 60% de sua superfície composta de espaço verde, dos quais quase 40% são parques, bosques e jardins de livre acesso público.
O mapa alternativo, criado a partir dos últimos dados sobre o uso de terras do Escritório Nacional de Estatísticas, faz parte de uma campanha que quer dar a Londres o status de cidade-parque, ou seja, considerar a cidade inteira como um grande parque.
Segundo os organizadores, seria "um novo tipo de parque" e Londres, o primeiro Cidade-Parque Nacional do mundo. O objetivo é conservar a habilidade dinâmica da cidade de se inovar e evoluir ao mesmo tempo em que se melhora "a biodiversidade, recreação, saúde, planejamento e design" do lugar.
Parques nacionais são financiados pelo governo central para conservar e realçar o habitat natural como patrimônio cultural e os organizadores da campanha dizem que não há nenhuma razão para que este pensamento não possa ser aplicado a um habitat urbano.
Segundo o mapa que procura mostrar que Londres é um parque sem o status de tal, 38% da cidade é ocupada por espaços verdes públicos, 24% por jardins domésticos, 2% por água, 12% por ruas, 1% por ferrovias, 1% por calçadas, 9% por edifícios residenciais, 5% por edifícios não-residenciais e 8% por terras com outros usos.
A ideia de Londres como um parque é interessante e ninguém nega que os gramados, bosques e afins fazem de Londres uma cidade melhor para se viver, trabalhar e visitar. No entanto, a capital enfrenta alguns problemas sérios, um deles sendo a qualidade do ar - mais de 4 mil mortes prematuras são registradas por ano devido à poluição do ar. Certamente, parque que é parque não pode contar com estatísticas dessas. 

Beatriz Portugal é jornalista. Depois de viver em Brasília, São Paulo e Washington, fez um mestrado em literatura na Universidade de Londres e resolveu ficar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário