sexta-feira, 18 de julho de 2014

Aécio critica exigências de Cuba e promete rever o Mais Médicos


OGLOBO - SILVIA AMORIM
Candidato também sugere mudanças no pagamento de pensões por morte
SÃO PAULO E BRASÍLIA - O candidato do PSDB à Presidência, senador Aécio Neves (MG), disse ontem que, se eleito, fará uma revisão do programa Mais Médicos, uma das bandeiras do governo da presidente Dilma Rousseff. Ele criticou a postura da atual gestão em relação às exigências do governo de Cuba para fornecer médicos à rede pública brasileira e cogitou romper o acordo firmado entre os dois países.
— O Brasil se submeteu a esse acordo. Temos que rever. Por que nós temos que concordar com o governo cubano? — afirmou Aécio, durante sabatina realizada pelo "Grupo Folha", "SBT" e "Rádio Jovem Pan".
Criado em 2013, o programa Mais Médicos contratou cerca de 14.400 médicos brasileiros e estrangeiros para atuar na rede pública em municípios do país. Destes, 80% são cubanos. O governo brasileiro paga uma bolsa de R$ 10 mil para cada médico do programa, mas, no caso dos cubanos, o dinheiro é enviado a Cuba, que paga aos seus profissionais R$ 3 mil por mês.
Aécio disse que não concorda com esse modelo de remuneração e acusou o governo Dilma de financiar o governo de Cuba com recursos públicos brasileiros.
— Na verdade, o governo brasileiro financia o governo cubano com parte da remuneração dos médicos — disse o tucano.
Aécio não explicou como pretende continuar com o programa, caso a parceria com Cuba seja rompida, uma vez que a maior parte dos profissionais hoje vêm da ilha. Ele disse que, se eleito, procurará a Organização Pan-americana da Saúde (Opas), que intermediou o convênio entre Brasil e Cuba, para discutir o assunto:
— Vamos estabelecer, por meio da associação latino-americana, novas regras. Não vamos aceitar as regras impostas por Cuba.
Encontro com associação médica brasileira
Para o candidato, o Mais Médicos não é a solução para o problema da Saúde pública. À tarde, ele recebeu em seu gabinete no Senado o presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), Florentino Cardoso, que lhe sinalizou apoio e criticou o governo Dilma.
— Começamos esse diálogo hoje e ele continuará a ser aprofundado durante a campanha eleitoral e, no que depender de mim, será consolidado após as eleições. Só vamos enfrentar os problemas na Saúde pública dialogando, não impondo medidas, nem tendo o marketing como objetivo maior do que efetivamente a melhora da qualidade do atendimento na Saúde pública — afirmou Cardoso.
Apesar da sinalização de apoio a Aécio, o dirigente disse estar aberto a convites de diálogo. Ele já se encontrou com o candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos (PSB), em evento do setor farmacêutico, mas, segundo disse, não teve tempo de aprofundar as conversas.
Outra revisão de rumos defendida ontem pelo tucano é na Previdência Social. Sem entrar em detalhes, ele admitiu que considera haver um "exagero" no pagamento de pensões por morte:
— O que não se pode fazer é cortar direitos adquiridos. Até porque, do ponto de vista legal, isso é impossível. Mas novas regras para o futuro devem e serão discutidas à luz do dia. Essas pensões por morte, há um certo exagero nisso. Essa é uma das questões que deverão ser discutidas com a sociedade.
O futuro da economia brasileira foi outro assunto em que Aécio foi bastante questionado. O tucano, entretanto, repetiu a fórmula que tem adotado há meses e evitou dar detalhes sobre como pretende implementar algumas propostas apresentadas em seu programa de diretrizes de governo entregue à Justiça Eleitoral, como a elevação do superávit primário (esforço de economia que o governo faz para pagar dívida).
Sem detalhes sobre proposta econômica
Aécio disse há alguns meses, em reunião fechada com empresários, que tomaria todas as medidas necessárias para que a economia brasileira volte a crescer, mesmo que fossem impopulares. Ontem, continuou sem dizer que medidas seriam essas. Ele afirmou ser capaz de ampliar o superávit primário sem cortar gastos ou aumentar impostos, e fazendo o país crescer.
O tucano afirmou ainda que a candidatura dele não trará insegurança ao setor econômico.
— Não acredito que, com a nossa vitória, haverá uma piora, mas uma melhora, porque economia é expectativa. Inflação também é perspectiva. Uma vitória do PSDB gerará um efeito inverso (ao de 2002) pela clareza das nossas convicções e pelas pessoas que estão conosco.
O ex-governador José Serra, candidato este ano ao Senado, acompanhou Aécio na sabatina. Hoje, o presidenciável visitará Florianópolis para o lançamento da candidatura do tucano Paulo Bauer ao governo estadual.
Colaborou: Júnia Gama
Publicado no Globo de hoje.

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