Como todo mundo sabe, o aspone nunca “trabalha” sozinho. Basta uma passeadinha em qualquer repartição pública para vermos diversas pessoas se acotovelando nas salinhas e nos corredores, ainda que sem muito o que fazer, claro. Aqui, por exemplo, somos em quatro. Isso porque a época é de vacas magras. Nos tempos de ouro, já fomos em cinco.
Por outro lado, no mundo real, é perfeitamente normal vermos pessoas trabalhando – e muito – sem nem uma secretária pra dar uma força. Principalmente em início de carreira, não é mesmo?
Quando eu comecei minha vida aspônica numa cidadezinha do interior, lembro que um estagiário da nossa repartição se formou em direito e resolveu montar seu escritório. Eu disse para ele que concurso era muito melhor, mas não consegui demovê-lo da ideia.
Dava até dó do menino, coitado. Ele tinha que se virar tirando cópias, atendendo telefone, indo até o fórum ver processos, marcando hora pra receber clientes, visitando empresas. Enfim, um sufoco. Só quem dava uma folga pro guri era sua mãe que, de vez em quando, aparecia lá pra ajeitar o escritório e passar um café.
Logo depois, ele me contou que queria contratar uma secretária. No entanto, ele tinha suas inseguranças. A principal delas era não conseguir pagar a moça caso o mês não rendesse o esperado. Como consequência, tinha medo também de ficar mal falado na praça e, quem sabe, até tomar um processo na Justiça do Trabalho.
No mês passado, voltei a essa cidade para resolver uns probleminhas e aproveitei para visitar o rapaz em seu novo escritório, agora com outros advogados, estagiários e a tal secretária – firme, forte e bem decotada – ali na entrada.
Conforme ele ia me contando sobre as dificuldades de se tocar um negócio próprio, eu pensava comigo: “eu bem que avisei pra prestar concurso!”.
Vejam se eu não estou certo. Recentemente, nós tivemos aqui no “trabalho” um problema parecido com o que ele enfrentou no início da carreira. Uma certa atividade sazonal que praticamos ia acontecer e precisávamos de mais gente.
E precisávamos mesmo. Afinal, apesar de estarmos em quatro aqui, eu e meus colegas aspones não podíamos nem imaginar ter que abrir mão da saidinha pro lanche, da fuçadinha esperta no facebook, daquela conversadinha marota ao telefone, de um cafezinho bem demorado e, é claro, não podíamos nunca perder a convocação da seleção pra Copa do Mundo pela TV.
Ainda bem que no mundo mágico do serviço público para tudo tem-se um jeito. Bastou que nosso chefe fizesse um contato com a turma da capital que, no dia marcado para a bagunça começar, recebemos reforço: mais um colega aspone pronto pra dar conta do povão.
Diferente daquele estagiário que virou advogado, não tivemos que nos preocupar com bobagens como orçamento apertado. Muito menos tivemos que ir atrás de devedores para fechar as contas. Bastou uma choradinha básica que a cavalaria apareceu.
Terminado o prazo, a ajuda foi devolvida. Não houve demissão, justiça do trabalho, multa sobre o FGTS, nada! Apenas um “boa viagem!” amigável e a certeza de que quando a coisa apertar, seremos socorridos.
E o mais importante: ninguém abriu mão do café, do facebook, do telefone, do lanche e muito menos de acompanhar a convocação. Aliás, o Felipão devia ter levado o Luís Fabiano, vocês não acham?
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