16/05/2014
Malafa
Um filósofo sofista estava na praça pública ensinando seus discípulos acerca da natureza de Deus e suas obras. O filosofo era respeitado como homem sábio e muito judicioso, que não costumava falar bobagens. Toda dia uma pequena multidão se ajuntava para ouvi-lo. Em volta dele se reuniam crentes de toda espécie, ateus, céticos e pessoas cheias de dúvidas.
Um homem, extremamente religioso, crente fiel e realizador de boas obras, quis ouvir a opinião do mestre, para confirmar se até então estava agindo corretamente. Então perguntou ao filósofo:
─ Mestre, Deus existe de fato? E ele realmente recompensa a fé e as boas obras?
─ Sim, meu filho ─ respondeu o mestre. ─ Nunca duvide disso.
Outro indivíduo, materialista arraigado e ateu convicto, também fez a mesma pergunta, somente para se certificar que o filósofo era um embusteiro. Pois ele tinha certeza que Deus não existia:
─ Mestre, Deus existe? ─ perguntou o cético.
─ Não, meu filho. Deus não existe. Você já sabe disso ─ respondeu o filósofo.
Então um terceiro indivíduo, cheio de dúvidas e incertezas, em busca de uma resposta para se orientar, fez a mesma pergunta:
─ Mestre, Deus existe mesmo? Como posso ter certeza disso?
─ Ele existirá se você quiser que ele exista e não existirá se você não quiser que ele exista─ respondeu o filósofo.
Um padre, que estava assistindo a palestra, e até então permanecera calado, já irritado com a resposta anterior do mestre, que dissera ao cético que Deus não existia, não pode mais se conter e disse:
─ O senhor é mesmo um grande embusteiro. Como pode dar três respostas diferentes á mesma pergunta?
─ Porque são três pessoas diferentes ─ respondeu o filósofo. Crer, negar e duvidar são três formas igualmente eficientes de se comunicar com Deus. Pois para negar alguma coisa é preciso pressupor antes a sua existência; para duvidar é preciso reconhecer que o que pensamos não ser verdade, talvez o possa ser. Assim, seja qual for a forma que escolhermos para pensar em Deus, o nosso pensamento tem que se concentrar nele. Querer impor uma única forma, isso sim, é nos colocar cada vez mais longe dele.
Postado por Anhangüera
http://prosaepolitica.wordpress.com/2014/05/16/o-sofisma-da-composicao/
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