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Como espécie, o homem desenvolveu a capacidade de avaliar intuitivamente o ambiente à sua volta, mesmo quando não consegue compreendê-lo racionalmente ou explicá-lo com uma cadeia lógica de relações causais. Essa habilidade tem contribuído muito para a sobrevivência e o progresso da espécie. No Brasil, especialmente nas grandes cidades, as pessoas e as famílias têm se atormentado, de forma cada vez mais intensa, com um vago, mas angustiante, sentimento de insegurança e ameaça. Ou seja, de que estão, todos, mergulhados em um ambiente cada vez mais hostil e perigoso.
É bem verdade que boa parte desse sentimento ou consciência vem da avalanche de atos criminosos noticiados diariamente pela imprensa, incluindo a violência praticada pelo crime organizado, a vandalização do patrimônio público e privado a qualquer pretexto (ou por pretexto nenhum), o extermínio de bandos numerosos durante confrontos entre facções rivais e outras formas chocantes de assassinatos, seqüestros, esquartejamentos e homicídios entre membros de uma mesma família.
No entanto, o efeito desse noticiário passa a ser complementado pela própria vivência das pessoas nesse ambiente de violência, mostrando a cada um que não se trata, no caso atual, de uma ameaça distante ou de uma velada teorização estatística. A violência é real e já afeta, diretamente, um numeroso contingente de brasileiros. Poucas são as pessoas ou famílias que ainda não estiveram diretamente envolvidas em episódios de violência (assaltos, roubos, ameaças, seqüestros, estupros, latrocínios, etc.) ou que não tiveram parentes, amigos próximos ou conhecidos, vítimas de um crime dessa espécie. Quantas mães já vivem conscientes da real possibilidade de que seus filhos venham a perder precocemente a vida por conta desse ambiente violento e cruel?
Somos um país eminentemente urbano. Mas, cerca de um terço da nossa população vive nos bairros de periferia, nos assentamentos irregulares ou nas favelas de grandes e médias cidades, onde a exposição à violência é mais acentuada. Esses locais concentram, pelo menos, a metade das mortes provocadas por causas violentas no território nacional. Nas duas maiores cidades do país, São Paulo e Rio de Janeiro, 21% de todas as mortes resultam de causas violentas, onde o Estado é mais criticado pela ineficiência dos serviços de segurança pública e, até mesmo, pela incapacidade de retomar, do crime organizado, o domínio territorial.
De acordo com um estudo de 2008, encomendado pelo governo suíço e divulgado em Genebra, o Brasil respondia por 10% de todos os homicídios praticados no mundo. E, de lá pra cá, a situação ainda piorou mais. Alcançamos índices de mortalidade por causas violentas equivalentes aos de países ou regiões que vivem ou viveram, recentemente, conflagrações bélicas, guerras civis ou revoluções sangrentas, como o Iraque, por exemplo.
Essa absurda situação em que nos metemos – e que precisa ser enfrentada eficientemente e com rapidez – já trouxe um enorme prejuízo à qualidade de vida dos brasileiros e de suas famílias. A vida das pessoas está simplesmente mudando (para pior) por causa da violência incontida pelo Estado. Hábitos simples como o de crianças brincando, se divertindo e se socializando em praças e parques já foram eliminados ou reduzidos depois de terem se transformado em pesadelo de pais e mães. As famílias estão amedrontadas e, cada vez mais, permanecem trancadas em suas casas. Isso, quando não se ressentem de terem perdido algum bem patrimonial importante ou de terem contribuído, como vítimas, para engrossar as estatísticas de estupros, assaltos, assassinatos e outras formas de violência urbana. Essa situação precisa e pode ser mudada, se quisermos sair das cavernas e nos transformarmos em uma nação civilizada.
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