Ia pela estação de St.Pancras quando uma aglomeração me chamou a atenção. Pelo tufo de cabelo amarelo que percebi no meio vi que se tratava do prefeito de Londres, Boris Johnson.
Ele é uma das figuras mais reconhecidas da política britânica e não só por seus inconfundíveis cabelos revoltos. Eleito em 2008, ele é da turma do populismo carismático e é considerado um candidato viável a assumir a liderança do Partido Conservador após o primeiro-ministro David Cameron.
Sua irreverência é tida por alguns como tática política das mais inteligentes enquanto que outros, muitas vezes boquiabertos pelas gafes e comentários inapropriados, o consideram um pateta. Tanto que o adjetivo bufão é muito associado à sua pessoa por conta das situações que tanto divertem ou insultam.
No ano passado, ele provocou alvoroço ao sugerir que os pobres da Grã-Bretanha são vítimas de QI baixo e ao brincar que as mulheres só vão para a universidade para encontrar maridos.
Mas voltemos à estação. Lá estava Boris mostrando suas habilidades musicais, ou a falta delas. Violão em mãos, ele dedilhou alguns acordes para lançar uma campanha em apoio ao músicos de rua.
Boris Johnson, prefeito de Londres
Os músicos, chamados de buskers, são “importantes para a riqueza cultural” de Londres, disse. De fato, eles fazem parte do cotidiano londrino. Entre buskers que ficaram famosos estão Eric Clapton, Simon & Garfunkel e Bob Dylan, e muitos artistas consagrados voltam às ruas, como Tom Jones que foi visto cantando “It’s Not Unusual” no Southbank e Paul McCartney que no ano passado tocou em Covent Garden.
Ao invés de acorrentá-los com “burocracia desnecessária, devemos valorizar a espontaneidade que eles trazem para nossas ruas,” disse Boris.
A campanha Back Busking segue uma decisão controversa do bairro de Camden, que introduziu licenças e multas numa tentativa de reduzir queixas de barulho. Quem for pego tocando ou cantando nas ruas do bairro sem autorização pode ser multado em até mil libras e ter instrumentos confiscados.
A grande polêmica é que se o objetivo é reduzir a poluição sonora, a lei deveria se aplicar ao uso de amplificadores e instrumentos mais sonoros ao invés de todos osbuskers, que geralmente usam instrumentos acústicos. O caso chegou até à justiça, onde um dos representantes de Camden disse que a voz humana é uma forma de amplificação.
Questionado sobre a nova política, o prefeito disse: “Os buskers são o equivalente do fermento no sistema digestivo, ou seja lá o que for que torna a cultura maravilhosa.” E ao ser perguntado sobre sua música favorita, ele citou “You Can’t Always Get What You Want,” dos Rolling Stones.
Um fanfarrão que um dia pode virar primeiro-ministro, ou até mesmo presidente dos Estados Unidos já que nasceu em Nova York e poderia se candidatar, Boris pelo menos mostrou ter um bom gosto musical.
Beatriz Portugal é jornalista. Depois de viver em Brasília, São Paulo e Washington, fez um mestrado em literatura na Universidade de Londres e resolveu ficar.
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