FOLHA DE SP - 18/02
Desleixo com infraestrutura cobra sua conta: falta trem, rua, estrada, porto; pode faltar água etc.
O RACIONAMENTO de energia elétrica de 2001 foi um choque. Foi mais ou menos chocante porque escassez de eletricidade é uma prova de primitivismos: econômicos, políticos e administrativos. Mais ou menos chocante, o apagão de 2001 não foi bem uma surpresa, porém.
O zum-zum chegou a esta Folha, já no início de 2000, quando grandes consumidores de energia, grandes empresas, e engenheiros diziam que a coisa era quase inevitável.
Um racionamento informal, "consensual", um "acordo de cavalheiros" com grandes empresas, começara em maio de 2000, 13 meses antes de o governo jogar a toalha.
O racionamento de 2001 foi resultado de incompetências muito grosseiras, fantasias mercadistas e de um desleixo que não pode ser chamado de criminoso apenas porque não está tipificado nos códigos.
Temos agora problemas críticos no abastecimento de água na Grande São Paulo e outros aglomerados importantes de cidades do Estado, alguns dos quais já sujeitos a racionamento.
As autoridades dizem que a situação é administrável; que não é preciso lançar campanhas de contenção de gasto, embora já existam prêmios para a redução do consumo.
Pode bem ser que não exista risco iminente de racionamento geral d'água. Este jornalista, pelo menos, não conseguiu ainda chegar a conclusão alguma, nem conseguiu ouvir de engenheiros especialistas opinião mais decisiva. De mais comum e menos incerto, ouviu que "o sistema vai estar sem folga até 2017, 2018" (data em que ficariam prontas obras relevantes), a depender demais de chuva.
A gente fica de orelha em pé, ainda mais gente que ouviu autoridades do governo FHC mentirem descaradamente sobre os problemas do setor elétrico em 2000. A mentira era parte do descaso: "Não é preciso fazer nada, pois está tudo sob controle, não vai haver racionamento de energia". Apenas em abril de 2001, um mês e pouco antes do anúncio do racionamento, o governo apareceria com um planozinho de contenção do consumo.
O desperdício de água é normalmente imenso no Brasil. Muita gente gasta demais, em bobagem (logo, o preço da água para os gastadores deve ser baixo demais, na margem). As empresas de saneamento perdem imensidões de água (são, pois, culpadas de ineficiências econômicas diretas e degradação ambiental). Ainda assim, há demanda reprimida (gente que não tem água bastante para o essencial).
Jogamos água fora, pois. Mas, neste momento de seca feia, não seria adequado fazer campanha forte de contenção de consumo? Qual o risco? O de perder votos?
Enfim, o retorno desses mortos vivos, o risco de racionamentos de água ou de eletricidade, lembra-nos o primitivismo das políticas e debates públicos por aqui: deixamos tudo explodir primeiro, para consertar depois, num desleixo infantil. Gostamos do "espetáculo do crescimento" do consumo; agora muita gente nem mais liga para a necessidade de crescimento econômico (o "povo vai bem", dane-se que a "economia vai mal"), sem o que não se paga investimento em infraestrutura.
Mas a conta chegou, de novo, a gente agora pode perceber no dia a dia. "Não vai ter Copa" não é um problema. Problema é que não vai ter porto, trem, rua, estrada, talvez água.
Desleixo com infraestrutura cobra sua conta: falta trem, rua, estrada, porto; pode faltar água etc.
O RACIONAMENTO de energia elétrica de 2001 foi um choque. Foi mais ou menos chocante porque escassez de eletricidade é uma prova de primitivismos: econômicos, políticos e administrativos. Mais ou menos chocante, o apagão de 2001 não foi bem uma surpresa, porém.
O zum-zum chegou a esta Folha, já no início de 2000, quando grandes consumidores de energia, grandes empresas, e engenheiros diziam que a coisa era quase inevitável.
Um racionamento informal, "consensual", um "acordo de cavalheiros" com grandes empresas, começara em maio de 2000, 13 meses antes de o governo jogar a toalha.
O racionamento de 2001 foi resultado de incompetências muito grosseiras, fantasias mercadistas e de um desleixo que não pode ser chamado de criminoso apenas porque não está tipificado nos códigos.
Temos agora problemas críticos no abastecimento de água na Grande São Paulo e outros aglomerados importantes de cidades do Estado, alguns dos quais já sujeitos a racionamento.
As autoridades dizem que a situação é administrável; que não é preciso lançar campanhas de contenção de gasto, embora já existam prêmios para a redução do consumo.
Pode bem ser que não exista risco iminente de racionamento geral d'água. Este jornalista, pelo menos, não conseguiu ainda chegar a conclusão alguma, nem conseguiu ouvir de engenheiros especialistas opinião mais decisiva. De mais comum e menos incerto, ouviu que "o sistema vai estar sem folga até 2017, 2018" (data em que ficariam prontas obras relevantes), a depender demais de chuva.
A gente fica de orelha em pé, ainda mais gente que ouviu autoridades do governo FHC mentirem descaradamente sobre os problemas do setor elétrico em 2000. A mentira era parte do descaso: "Não é preciso fazer nada, pois está tudo sob controle, não vai haver racionamento de energia". Apenas em abril de 2001, um mês e pouco antes do anúncio do racionamento, o governo apareceria com um planozinho de contenção do consumo.
O desperdício de água é normalmente imenso no Brasil. Muita gente gasta demais, em bobagem (logo, o preço da água para os gastadores deve ser baixo demais, na margem). As empresas de saneamento perdem imensidões de água (são, pois, culpadas de ineficiências econômicas diretas e degradação ambiental). Ainda assim, há demanda reprimida (gente que não tem água bastante para o essencial).
Jogamos água fora, pois. Mas, neste momento de seca feia, não seria adequado fazer campanha forte de contenção de consumo? Qual o risco? O de perder votos?
Enfim, o retorno desses mortos vivos, o risco de racionamentos de água ou de eletricidade, lembra-nos o primitivismo das políticas e debates públicos por aqui: deixamos tudo explodir primeiro, para consertar depois, num desleixo infantil. Gostamos do "espetáculo do crescimento" do consumo; agora muita gente nem mais liga para a necessidade de crescimento econômico (o "povo vai bem", dane-se que a "economia vai mal"), sem o que não se paga investimento em infraestrutura.
Mas a conta chegou, de novo, a gente agora pode perceber no dia a dia. "Não vai ter Copa" não é um problema. Problema é que não vai ter porto, trem, rua, estrada, talvez água.
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