sábado, 22 de fevereiro de 2014

Cartas de Buenos Aires: Os bons ares, por Gabriela Antunes


Parques, teatros, cafés, universidades, ruas arborizadas, a charmosa Buenos Aires se ergue com seus edifícios “art nouveau”, arquitetura francesa, o velho charme das vias de trem, os paralelepípedos das ruas de San Telmo e Palermo, as torres de Puerto Madero, o tango soprado como o vento pelas ruas da capital, uma cidade deitada sobre as margens do rio da Prata.
Talvez a cidade seja marcante pelos jacarandás que florescem em lilás na primavera ou pela pausa silenciosa portenha para o café, pela melancolia europeia do antigo império, por conta das cúpulas do Teatro Colón, dos coretos de Belgrano ou de seus 48 bairros, cada um especial do seu modo.
Tanta beleza somada a transporte, água, luz e gás subsidiados fazem da capital argentina, apesar das queixas e recessão econômica, uma das cidades com melhor qualidade de vida da América Latina e Caribe. Isso é o que concluiu um estudo da consultoria privada Mercer, divulgado esta semana, que colocou Buenos Aires entre as quatro melhores cidades da região, perdendo apenas para destinos paradisíacos no Caribe e Montevidéu.
Segundo a consultoria Mercer, que apresenta o resultado do estudo para subsidiar decisões de empresas multinacionais, Buenos Aires ocupa o 81º lugar no rankingmundial (o Brasil só entra na lista com Manaus no posto 125º).

Talvez a cidade seja marcante pelos jacarandás que florescem em lilás na primavera...

Quase 15 milhões de habitantes em uma das maiores áreas urbanas do mundo, Buenos Aires é um leque metropolitano que se abre pela planície argentina.
Uma porta aberta aos migrantes da América Latina, a cidade vai, aos poucos, se transformando na babel que os imigrantes europeus sonhavam quando, no século XVIII, desembarcavam no porto do bairro Boca.
Paulatinamente, os bairros de Abasto, Flores e Liniers se rendem aos aromas e cores bolivianos e peruanos. Enquanto isso, os chilenos e colombianos buscam seu lugar na capital atraídos pela qualidade do ensino superior argentino.
Por outro lado, a Villa 31, a maior favela de Buenos Aires, cresce paralela a uma das mais elegantes avenidas da cidade (Avenida del Libertador), inflada pela imigração que a capital não consegue absorver: retirantes do pobre norte da Argentina e de países limítrofes, como o Paraguai. E a xenofobia não é um fator menor. Muitos argentinos ainda acreditam que boa parte da criminalidade é resultado desse movimento imigratório.
Apesar da crise econômica e inflação, Buenos Aires ainda é, de acordo com os 39 aspectos avaliados pela consultora Mercer, uma das melhores cidades do continente.
Buenos Aires também se destaca como uma das cidades com mais teatros e oferta cultural do mundo. Um bom lugar para se viver, com bons ares.

Gabriela G. Antunes é jornalista e nômade. Cresceu no Brasil, mas morou nos Estados Unidos e Espanha antes de se apaixonar por Buenos Aires. Na cidade, trabalhou no jornal Buenos Aires Herald e hoje é uma das editoras da versão em português do jornal Clarín. Escreve aqui todos os sábados.

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